
O Brasil vive um momento de turbulência econômica que o governo tenta, de todas as formas, minimizar. Mas os números não mentem: inflação em alta, alimentos pesando cada vez mais no bolso da população, gasolina atingindo patamares nunca vistos e um dólar incontrolável. O país beira a recessão, e os brasileiros sentem no dia a dia a dificuldade de manter o básico em casa. Diante desse cenário caótico, o presidente Lula resolveu dar uma solução “simples” ao problema: basta o povo não comprar aquilo que está caro.
A declaração, feita durante uma entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, na Bahia, causou espanto e revolta entre empresários e trabalhadores. “Se todo mundo tivesse a consciência e não comprar aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar. Isso é da sabedoria do ser humano. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro”, disse o presidente. Para ele, a responsabilidade de combater a inflação não é do governo nem da política econômica equivocada, mas sim do consumidor, que deveria simplesmente boicotar produtos que não pode pagar.
A fala gerou reações imediatas. O empresariado viu a declaração como um desrespeito à lógica econômica, uma vez que os preços refletem fatores muito mais complexos do que a simples vontade de quem compra ou vende. Já o trabalhador, que recebe um salário mínimo de R$ 1.518,00 bruto – e que sofre com descontos de FGTS, INSS, transporte e alimentação –, não tem o privilégio de escolher entre comprar ou não um quilo de feijão ou um litro de leite. A realidade é que, para muitos brasileiros, a única opção já é reduzir drasticamente a alimentação e cortar itens essenciais.
O que Lula parece ignorar é que a inflação no Brasil não se dá apenas pela lei da oferta e da demanda no varejo. Os altos preços dos alimentos e dos combustíveis são reflexo direto de uma carga tributária sufocante, da falta de incentivo à produção e da instabilidade econômica gerada pela falta de credibilidade do governo no mercado. O dólar dispara porque investidores perdem a confiança no país. A gasolina sobe porque os impostos estaduais e federais engolem boa parte do preço final. A cesta básica está cada vez mais inacessível porque a política econômica do governo não consegue conter a desvalorização do real e o aumento dos custos de produção.
Diante disso, fica a pergunta: se a máxima de Lula vale para os alimentos, também deve valer para os impostos? O brasileiro pode simplesmente decidir não pagar os tributos que estão altos? Afinal, se o próprio presidente sugere que não se compre aquilo que está caro, por que não aplicar essa lógica às tarifas abusivas e à carga tributária que suga o poder de compra da população?
A verdade é que, ao invés de apresentar medidas concretas para conter a crise econômica, Lula prefere distribuir frases de efeito e transferir a responsabilidade para o povo. Mas os brasileiros, que convivem diariamente com o aperto financeiro, já não caem mais nessa retórica populista. O problema não é apenas o preço nas prateleiras. O problema é um governo que não reconhece sua culpa e segue escondendo a crise debaixo do tapete.
Uanderson Melo é jornalista, radialista e teólogo