
Por Uanderson Melo
O pedido aprovado por uma comissão da Câmara dos Deputados para que o presidente Lula seja investigado por fraudes no INSS é mais do que um mero ato simbólico. É uma bomba de efeito político — e, se levada adiante, pode expor um esquema robusto de uso político da máquina pública que vem sendo denunciado há meses. O documento, validado no último dia 10, aguarda agora o crivo do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que segura a chave de ignição de um eventual escândalo de grandes proporções.
O centro da denúncia é grave: a explosão no número de benefícios concedidos pelo INSS, muitos sob suspeita de fraude, e a omissão deliberada do governo em controlar esses excessos. A comissão aponta para um cenário de descontrole proposital ou pior, de uso intencional da previdência como ferramenta de captação de apoio popular em redutos eleitorais estratégicos.
Mas o caso ganha contornos ainda mais comprometedores quando o documento aponta o envolvimento de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula. Segundo a comissão, ele teria atuado como intermediador político em nomeações, favorecimentos e articulações dentro do esquema, numa típica estrutura de poder paralela que remete aos velhos tempos do sindicalismo petista misturado à máquina estatal.
O silêncio do Planalto, até agora, é ensurdecedor. Nenhuma palavra oficial para desmentir, rebater ou explicar. A velha tática de se fingir de morto na esperança de que a pauta perca força. Só que, desta vez, o silêncio pode custar caro. A narrativa de um governo comprometido com a transparência e a responsabilidade fiscal não se sustenta diante de denúncias tão pesadas.
Agora, os olhos se voltam para Hugo Motta. Ele, presidente da Câmara, carrega nas mãos a responsabilidade de dar andamento ou barrar o pedido de investigação. Se engavetar o documento, se alinhará ainda que silenciosamente a um esquema que precisa ser esclarecido. Se permitir o avanço, abrirá um flanco perigoso para o Planalto, mas reafirmará a independência da Câmara e o dever de fiscalização que o Congresso tem perante o povo brasileiro.
Não se trata de uma disputa ideológica ou de embate entre governo e oposição. Trata-se de dinheiro público, de justiça e da integridade de um dos sistemas mais sensíveis do país: a previdência social. Milhões de brasileiros que dependem do INSS estão sendo tratados como massa de manobra em um projeto de poder que, ao que tudo indica, não conhece limites — nem mesmo os da lei.
Lula, que se elegeu prometendo cuidar dos pobres, precisa responder: o que tem a dizer sobre o envolvimento de seu irmão nas engrenagens da máquina pública? Vai alegar desconhecimento, como em escândalos anteriores, ou enfrentará o tema com a seriedade que o cargo exige?
A bola está com Hugo Motta. E com ela, a chance de mostrar que o Brasil não está inteiramente anestesiado diante do uso abusivo do poder político para fins pessoais e eleitorais. O tempo da omissão já passou. Agora, ou se investiga ou se compactua.