
Vivemos em uma era em que a tecnologia redefine o mundo todos os dias. Inteligência artificial, plataformas digitais, ferramentas de aprendizagem adaptativa e metodologias ativas já transformam a forma como milhões de pessoas aprendem ao redor do planeta. No entanto, no Brasil especialmente no ensino público, o uso da tecnologia em sala de aula ainda parece um tabu. Em vez de ser uma ponte para o futuro, ela continua sendo tratada como um adereço opcional, um luxo, algo secundário. O resultado? Um abismo entre o mundo real, conectado e dinâmico, e as salas de aula, muitas vezes paradas no tempo.
Não é exagero dizer que parecemos viver em dois mundos diferentes. De um lado, jovens mergulhados em celulares, redes sociais e vídeos curtos. Do outro, professores sozinhos diante de lousas e métodos repetitivos, tentando manter a atenção de alunos cada vez mais dispersos e desmotivados. A tecnologia, quando existe, é usada de forma superficial mais uma ferramenta de controle do que de criação. Falta estrutura, falta formação e, principalmente, falta visão de futuro.
Enquanto isso, em diversos países, o contato com a tecnologia não é apenas incentivado desde cedo é parte integrante da educação. No Uruguai, o projeto Ceibal garante laptops para cada aluno da rede pública primária e promove formação contínua para professores. A Estônia, ainda nos anos 90, conectou todas as escolas à internet e hoje colhe resultados excepcionais em avaliações internacionais. Na China e nos Emirados Árabes Unidos, crianças aprendem programação e inteligência artificial já no ensino fundamental. Em Singapura, os alunos participam de projetos de robótica e ciências aplicadas como parte do currículo. Esses países entenderam que a tecnologia não é o futuro é o presente.
Integrar tecnologia ao ensino formal não é sobre substituir professores por máquinas, mas sim sobre potencializar o aprendizado. Ferramentas digitais podem ajudar a personalizar o ensino, identificar dificuldades específicas, engajar os alunos de forma mais eficiente e preparar os jovens para profissões que sequer existiam há poucos anos. Mas, mais do que isso, dominá-las é hoje uma questão de cidadania: quem não compreende o universo digital está à margem da sociedade contemporânea.
O Brasil não pode mais esperar. Precisamos investir em infraestrutura tecnológica nas escolas públicas, sim, mas isso é só o começo. É urgente oferecer formação continuada aos professores, criar políticas públicas que coloquem a inovação pedagógica no centro do debate educacional e promover o uso da tecnologia de forma ética, criativa e crítica desde os primeiros anos de ensino.
Não se trata apenas de modernizar a sala de aula, mas de garantir que todos os estudantes tenham acesso real às ferramentas que moldam o mundo. Só assim deixaremos de ser um país onde educação e realidade caminham em direções opostas e passaremos a construir um futuro no qual ensinar e aprender seja, acima de tudo, conectar.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública