
O chamado “julgamento do ano”, que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, ganhou espaço diário na mídia nacional, mas não conquistou o interesse real da população. Nas ruas, o tema é ignorado, como se fosse apenas mais um capítulo de uma novela judicial que pouco dialoga com a vida prática dos brasileiros. O contraste é gritante: enquanto jornais, emissoras e portais armam um verdadeiro circo midiático, o povo assiste, quando assiste, com descrédito e indiferença.
O problema vai além da repercussão. A condução do processo pelo ministro Alexandre de Moraes é alvo de duras críticas de juristas, que apontam clara violação do sistema acusatório: quem acusa não pode ser o mesmo que investiga e julga. Mas é exatamente isso o que se vê. Moraes acumulou funções e se tornou, na prática, investigador, acusador e julgador, o que compromete a imparcialidade e fragiliza a legitimidade do julgamento.
Especialistas como Gustavo Badaró e Marcelo Crespo já denunciaram os excessos cometidos pelo ministro, destacando a perda de neutralidade em casos de grande impacto. O jurista Wálter Maierovitch chegou a defender publicamente o afastamento de Moraes do caso, afirmando que “não dá para querer que ele seja imparcial; ele está envolvido nisso”. Até veículos estrangeiros, como a revista The Economist, apontaram que o STF não oferece condições de um julgamento justo ao ex-presidente.
Nada, até agora, comprova que Bolsonaro tenha articulado um golpe de Estado. O que se vê é uma tentativa de enquadrar o ex-presidente em uma narrativa política e jurídica que atende mais ao clima de polarização do país do que a um processo técnico baseado em provas robustas. Nesse cenário, a possibilidade de prisão soa mais como um gesto de vaidade, o “eu o prendi” do que como um ato legítimo de justiça.
Outro ponto de desgaste é a escolha da Primeira Turma para julgar o caso, em vez do Plenário do STF. Essa decisão, fruto de mudanças regimentais recentes, restringe o debate e alimenta a percepção de que o julgamento está sendo moldado para atender expectativas específicas. Muitos ministros, por sua vez, parecem mais comprometidos em defender a imagem institucional do Supremo do que em enfrentar, de fato, as contradições e arbitrariedades do processo.
O que está em jogo não é apenas o futuro político de Jair Bolsonaro, mas a credibilidade das instituições brasileiras. Quando a Justiça se mostra seletiva e parcial, a democracia inteira se fragiliza. O Supremo deveria ser o guardião da Constituição; ao se transformar em protagonista político e palco de espetáculos midiáticos, corre o risco de ser lembrado não como baluarte da lei, mas como ator central da crise de confiança que assola o país.
A democracia não se fortalece com julgamentos teatrais, mas com transparência, equilíbrio e respeito às garantias constitucionais. É disso que o Brasil precisa e é justamente isso que falta no julgamento de Bolsonaro.