
Quando se fala em política, a coerência deveria ser a base de qualquer mandato. Mas o que se viu recentemente, após a votação da chamada PEC da Blindagem, foi uma verdadeira demonstração de como parte dos nossos representantes atua sob pressão, e não por convicção.
No calor da votação, deputados pernambucanos apertaram o botão do “sim” sem pestanejar, aprovando uma proposta que, em linhas práticas, abre espaço para uma infiltração ainda maior do crime organizado na política brasileira, além de reduzir a transparência e dificultar o combate à corrupção.
Passados alguns dias, veio a cobrança. A sociedade reagiu, os eleitores protestaram, e as redes sociais se transformaram em tribunais populares. De repente, surgiram vídeos, postagens e declarações públicas de parlamentares tentando se justificar. Vieram as desculpas, os discursos de “não foi bem isso que eu quis”, as alegações de que “não perceberam os impactos”. Ora, sejamos francos: não se trata de falta de percepção, mas de falta de coragem para enfrentar as consequências de um voto desastroso.
Esse arrependimento não nasceu do coração, mas do cálculo eleitoral. Não foi fruto de consciência política, e sim da conta fria de 2026. Deputados perceberam que defender a PEC da Blindagem é abraçar um projeto que retira poder da sociedade e entrega privilégios para quem quer se proteger da lei. E, ao sentir o peso da indignação popular, tentaram se descolar daquilo que eles mesmos aprovaram.
A cena é repetida na política pernambucana: discursos de ética e moral em palanques, mas, na prática, votos que enfraquecem a democracia e abrem brechas para a corrupção prosperar. O eleitor não é ingênuo e sabe separar arrependimento verdadeiro de arrependimento estratégico.
Em 2026, quando as urnas se abrirem, essa memória virá à tona. E, aí, não haverá espaço para desculpas de última hora.