
Há quem tema a morte como o fim, o nada, o silêncio absoluto. No entanto, há também quem a veja como um recomeço, uma travessia inevitável que nos despe da carne e nos devolve àquilo que realmente somos. Entre o medo e a fé, entre o apego e a entrega, há uma verdade antiga e constante: nada que é essencial morre.
A vida, em sua aparente solidez, é um breve instante da eternidade. Somos viajores vestindo a matéria, vivendo experiências que moldam o espírito — esse núcleo invisível, mas real, que nos habita e sobrevive ao tempo. Chamemos de alma, consciência, energia ou essência divina; todas as tradições espirituais, em diferentes vozes, falam do mesmo mistério. A morte não é o contrário da vida, mas parte dela.
Ainda assim, insistimos em viver como se fôssemos corpos dotados de um espírito, e não o inverso. Corremos, acumulamos, competimos, sofremos por aquilo que o pó um dia há de reclamar. E quanto mais nos identificamos com o que perece, mais nos afastamos do que permanece. Há nisso uma contradição filosófica — e talvez um descuido com o próprio Criador, que nos deu a consciência para enxergarmos além da aparência, e enviou um exemplo vivo para que soubéssemos que o amor e a verdade atravessam até a morte.
Quem morrer verá — mas quem viver com sabedoria verá antes. Porque perceber-se espírito em vida é morrer para as ilusões, é libertar-se da tirania do efêmero, é compreender que a morte não é castigo, mas retorno. Retorno à casa da qual jamais deveríamos ter esquecido o caminho.
Talvez o maior desafio da existência não seja entender o que vem depois, mas despertar agora. Amar mais, julgar menos, silenciar o orgulho e reconhecer no outro o mesmo sopro divino que nos anima. A vida é curta, mas o espírito é vasto — e nele mora a verdade que a morte, em seu aparente poder, jamais poderá calar.
Jairo Lima é escritor, poeta e artista plástico