
Vivemos tempos em que a violência parece ecoar por todos os cantos — nas ruas, nas telas, nas palavras e até nos gestos cotidianos. O noticiário a reproduz como espetáculo, e, fascinados pelo drama humano, muitos se esquecem de que a violência não nasce fora, mas dentro. É fruto de uma desarmonia íntima que se expande, contaminando lares, cidades e nações inteiras.
Antes de nos convencermos de que o mundo piorou, é preciso perceber que talvez apenas tenhamos ampliado nossa capacidade de ver. A tecnologia nos tornou testemunhas instantâneas da dor alheia, mas o sofrimento, em si, é antigo. O que muda é a forma como reagimos a ele — e o quanto nos dispomos a compreendê-lo.
Por trás dos golpes, das armas e dos insultos, há sempre um vazio não preenchido. A violência, em sua essência, é um grito do ser que perdeu o sentido da própria existência. Quando o indivíduo se desconecta de valores que dão norte à vida — como o amor, a compaixão e o respeito ao outro — ele se torna refém de impulsos primários. A ausência de consciência moral não surge de um dia para o outro: é fruto de um longo processo de distanciamento interior, de um esquecimento daquilo que nos torna verdadeiramente humanos.
Educação, ciência e progresso material pouco significam quando não há educação da alma — aquela que ensina o valor da empatia, o peso da escolha e a grandeza do perdão. Sem ela, construímos cidades luminosas, mas corações em sombras.
Toda sociedade é o reflexo da soma das consciências que a compõem. Assim, a transformação do mundo começa na reforma silenciosa do indivíduo. Não se trata de religião, mas de um retorno àquilo que há de mais elevado em nós: a capacidade de amar, compreender e servir. A violência é a antítese do amor — e o amor, ainda que silencioso, é o remédio que dissolve o ódio e cura as feridas da alma. Só quando aprendermos a nos reconciliar com o outro e conosco mesmos, deixaremos de projetar sobre o mundo os conflitos que carregamos por dentro.
Vivemos um período de transição moral. As estruturas velhas — baseadas no egoísmo, na corrupção e na indiferença — começam a ruir, dando lugar a um novo modo de existir. É natural que o processo seja doloroso: todo nascimento é acompanhado de dor. Mas dessa crise surgirá uma humanidade mais lúcida, que compreenderá que a paz não se decreta, se constrói, dentro de cada ser.
Quando o homem aprender que a verdadeira força está na serenidade, que a justiça nasce da bondade e que nenhum gesto de amor é em vão, então poderemos vislumbrar um mundo renovado — não pela imposição das leis, mas pela iluminação das consciências.
A violência é o sintoma de uma humanidade que ainda busca entender o próprio destino. Mas a cura está ao alcance de todos. Começa quando um coração escolhe a paz em vez da vingança, o diálogo em vez da ofensa, o perdão em vez do rancor. Cada gesto de compreensão é uma semente lançada no solo do futuro. E é apenas por meio dessas sementes silenciosas que, um dia, colheremos a tão sonhada paz.
Jairo Lima é artista plástico, escritor e poeta




