
O prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral, resolveu deixar de lado o protocolo político e fazer aquilo que a população mais espera de um gestor em tempos de insegurança: agir. Em um movimento firme e simbólico, anunciou que busca uma audiência com a governadora Raquel Lyra para propor a convocação da Força Nacional de Segurança como resposta à escalada da violência no município. Um gesto ousado, sim, mas sobretudo, necessário.
A fala da governadora durante a abertura do Congresso dos Municípios, na última segunda-feira (28), parece ter sido o estopim: “as pessoas vivem nos municípios“, disse Raquel Lyra. Pois bem. Lula Cabral tomou essa frase ao pé da letra e decidiu agir, colocando o interesse da população acima da disputa política. Afinal, é nos municípios e não nos gabinetes refrigerados que a violência estoura, o medo cresce e a insegurança se torna rotina.
O Cabo tem vivido uma sucessão de crimes que chocam até os mais acostumados com os noticiários policiais. De homicídios em plena luz do dia a tentativa de chacina em áreas turísticas, o município parece entregue à criminalidade. Em apenas um mês, a cidade registrou uma série de assassinatos bárbaros, muitos deles com forte repercussão social, e nenhum desfecho policial concreto até agora. O recado que fica é um só: os bandidos perderam completamente o medo.
Não por acaso, Lula Cabral sustenta que o Governo do Estado está impotente. E não está sozinho nessa percepção: é o segundo prefeito da Região Metropolitana do Recife, em uma semana, a cobrar mais efetividade da política de segurança estadual. Em vez de discursos genéricos, o prefeito quer ação: reforço de tropas federais, presença ostensiva e garantias mínimas para que a população volte a ter paz.
E aqui cabe uma crítica que ecoa nos bastidores e nas ruas: o programa estadual Juntos Pela Segurança, apesar das boas intenções, está desconectado da realidade de quem vive nos bairros mais vulneráveis. A cada reunião, o Governo do Estado anuncia queda nos índices criminais. Mas, do lado de fora, o que se vê são moradores trancados em casa, com medo de sair, enquanto a criminalidade faz a festa. O povo começa a se perguntar se os números são reais ou apenas uma maquiagem institucional para conter a pressão. Se a segurança melhorou, por que o medo só aumenta?
A resposta pode estar no abismo entre estatística e sensação social. A segurança não se mede apenas em gráficos e tabelas, mede-se também no ir e vir, no direito de circular livremente, no sossego de poder sair de casa à noite. E é isso que está faltando.
O pedido de Lula Cabral não é um ataque político direto à governadora, mas uma tentativa de colaboração dura, é verdade diante de um cenário desesperador. Ele quer que Raquel Lyra leve o apelo ao Governo Federal. Se a segurança pública é dever do Estado, então que o Estado reconheça seus limites e busque ajuda onde for necessário. Fingir que tudo está sob controle é compactuar com o descontrole.
Lula Cabral fez o que se espera de um líder: encarou a realidade e se posicionou. Agora, cabe à governadora e ao Governo Federal escutar o que grita das ruas do Cabo. A população não quer promessas. Quer segurança. Quer resposta. E quer agora.
Por: Uanderson Melo, radialista, jornalista e teólogo