
Por Uanderson Melo
No teatro da política externa brasileira, protagonizado por Luiz Inácio Lula da Silva, as cortinas frequentemente se abrem para encenações repletas de incoerências e contradições gritantes. O episódio recente envolvendo o tarifaço do governo norte-americano de Donald Trump, que impôs uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, expôs mais uma vez a face combativa e ideológica do governo petista, mas apenas quando lhe convém.
Diante da medida de Trump, Lula e seus aliados não tardaram a subir no palanque internacional. Denúncias de desrespeito à soberania nacional, discursos inflamados contra o imperialismo e ameaças de retaliação ecoaram de Brasília para o mundo. Era o “Lula nacionalista”, o “defensor dos pobres”, o herói de uma narrativa maniqueísta onde o Brasil é sempre vítima de interesses internacionais malignos, principalmente se esses interesses vierem dos Estados Unidos.
No entanto, bastou que o mesmo movimento protecionista viesse da Venezuela, país governado com punho de ferro pelo ditador e aliado político Nicolás Maduro, para que Lula se calasse. Nenhuma crítica, nenhum gesto diplomático mais duro, nenhuma ameaça de reciprocidade. Silêncio total. O que Maduro fez foi ainda mais grave: um tarifaço ainda mais severo sobre produtos brasileiros, afetando diretamente o agronegócio, a indústria e a balança comercial de estados fronteiriços que dependem da relação com a Venezuela.
Por que tamanha diferença de tratamento? A resposta é tão simples quanto incômoda: ideologia e conveniência política. Lula prefere bater em Trump, adversário ideológico declarado, e proteger Maduro, aliado nos fóruns bolivarianos e nas rodas de esquerda da América Latina. O preço dessa incoerência é pago pelo Brasil, pelas empresas brasileiras e, claro, pelo povo brasileiro, que vê mais uma oportunidade de comércio e desenvolvimento escorrer pelos dedos.
Enquanto isso, outras nações se movem com pragmatismo. A União Europeia, mesmo divergindo politicamente de Trump, sentou-se à mesa, negociou e chegou a acordos comerciais que beneficiam seus países-membros. O Brasil, sob a liderança petista, prefere a retórica inflamada ao diálogo efetivo. Resultado: isolamento diplomático, perda de competitividade e prejuízos concretos para a economia.
Essa política externa de birra ideológica, embalada num discurso de luta de classes, também se reflete no tom adotado por Lula em eventos públicos. Recentemente, o presidente fez uma declaração que causou perplexidade ao dizer: “O que leva uma pessoa da periferia a votar num rico? É colocar raposa no galinheiro. (…) Ele só é rico porque já roubou.” O ex-operário que ascendeu ao poder e hoje é um milionário, questiona o voto do pobre num suposto “rico ladrão”, ignorando que, pela lógica da própria frase, ele estaria se descrevendo. Afinal, Lula não é mais o homem humilde do ABC paulista: hoje, vive cercado de luxos, segurança, mordomias e influência política global.
A verdade é que Lula nunca foi “paz e amor”. Sua política sempre teve um inimigo, ora os bancos, ora a classe média, ora a imprensa, ora os ricos e um projeto: manter o poder a qualquer custo, ainda que isso signifique colocar o Brasil em rota de colisão com parceiros comerciais ou fomentar divisões internas perigosas.
Ao insistir nesse jogo de “ricos contra pobres”, o governo esconde sua inabilidade em resolver os verdadeiros problemas do país: desemprego, inflação, infraestrutura precária e insegurança pública. E mais uma vez, quem paga a conta é o povo, o mesmo povo que Lula diz defender.
Chegou a hora de perguntar: até quando o Brasil aceitará ser governado por discursos que não resistem à realidade? E mais: até quando permitiremos que ideologia suplante a razão e a dignidade nacional?




