
A revolução da inteligência artificial trouxe uma inversão curiosa: pela primeira vez, os mais velhos saem na frente no domínio de uma tecnologia. Isso acontece porque a IA não premia impulsividade, rapidez ou comunicação reduzida a emojis, mas sim clareza de pensamento, repertório cultural, profundidade interpretativa e capacidade de formular boas perguntas — habilidades desenvolvidas justamente por quem cresceu no tempo dos livros, da leitura disciplinada e do estudo sem atalhos. A juventude atual, muitas vezes habituada à superficialidade digital, enfrenta uma dificuldade natural: a IA exige texto bem estruturado, lógica, vocabulário e contexto, elementos que se constroem com leitura e vivência, não com frases curtas ou símbolos.
A grande vantagem dos mais velhos está no acúmulo de experiências que moldam o pensamento: quem lidou com crises, tomou decisões importantes, estudou com profundidade, debateu ideias, interpretou sentimentos e cultivou sabedoria prática possui um reservatório interno de conhecimento que a IA apenas amplifica. A máquina reflete o usuário — se você tem profundidade, ela aprofunda; se tem sabedoria, ela expande; se tem repertório, ela transforma tudo isso em soluções. Assim, maturidade e experiência se tornam um capital intelectual decisivo.
A juventude, ao trocar leitura por telas e reflexão por velocidade, perde justamente aquilo que a IA mais exige: capacidade de articular ideias com densidade. Emojis substituem raciocínios, abreviações substituem sintaxe, e a comunicação perde complexidade. A IA não compreende atalhos emocionais; ela depende de linguagem para produzir sentido. Por isso, quem viveu mais, leu mais e pensou mais profundamente larga naturalmente na frente.
No mundo da IA, quem pergunta melhor, vence. E perguntar bem é uma arte que exige tempo, observação e maturidade — algo que muitos mais velhos dominam com naturalidade. A tecnologia nivelou o acesso, mas não nivelou a profundidade. A inteligência artificial não anulou a sabedoria; ao contrário, multiplicou-a. Ela permite que décadas de conhecimento sejam rapidamente aplicadas, organizadas e transformadas, tornando evidente que experiência ainda é, e sempre será, uma força imbatível.
Jairo Lima é escritor, poeta e artista plástico




