
A saída de Danilo Cabral da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) é mais do que uma simples troca de comando em um órgão federal. É, na verdade, um sintoma de um velho problema que insiste em travar o progresso do país: a politicagem se sobrepondo à política séria e de resultados.
Danilo Cabral vinha conduzindo a Sudene com competência técnica e habilidade política, duas qualidades raras de se encontrar juntas. Reconstruiu a imagem de uma instituição que, por anos, esteve relegada a segundo plano. Sob sua gestão, a autarquia voltou a ser protagonista na articulação de projetos estratégicos e no diálogo com os governadores do Nordeste, independentemente de partido ou cor ideológica.
Sua presença era um ponto de convergência entre diferentes gestões estaduais, algo essencial para o bom andamento de políticas regionais. Ao contrário de tantos nomes indicados por apadrinhamentos políticos, Danilo tinha preparo, conhecimento e trânsito para mediar interesses e tirar projetos do papel.
Mas, mais uma vez, o pragmatismo estreito da política de Brasília falou mais alto. A decisão de afastá-lo, fruto de pressão de grupos políticos e de negociações por espaço no governo, interrompe um ciclo virtuoso que começava a render frutos para o Nordeste. É o tipo de movimento que dá a sensação de que não se governa com foco no desenvolvimento, mas sim na ocupação de cargos como moeda de troca.
O Governo Lula, que prometeu colocar o Nordeste como prioridade estratégica, perde um quadro que estava alinhado com essa missão. A troca é um erro grave. Não por falta de opções, mas porque interrompe um trabalho sólido em nome de um arranjo político que pouco ou nada acrescenta à região.
No fim das contas, o recado que fica é amargo: no Brasil, até quando uma política pública começa a dar certo, a politicagem trata de sabotá-la. E quem paga essa conta não é Danilo Cabral, é o povo nordestino, que perde um defensor articulado e eficiente na linha de frente.