
Abril é o mês dedicado ao combate ao feminicídio em Pernambuco — uma tragédia silenciosa que interrompe vidas e deixa marcas profundas na sociedade. No Hospital Dom Helder Câmara, essa realidade tem nome, rosto e história: são mulheres que chegam feridas, física e emocionalmente, vítimas da violência que insiste em se repetir.
De janeiro de 2024 a março de 2025, o serviço social da unidade acolheu 88 mulheres vítimas de violência, sendo os principais mecanismos de agressão arma de fogo, arma branca e agressões físicas. A faixa etária dessas vítimas varia entre 24 e 64 anos. Muitas dessas pacientes deram entrada em situação grave, após tentativas de feminicídio — o desfecho mais brutal de uma escalada de abusos que, na maioria das vezes, começa com o silêncio.
No primeiro contato com a vítima, a acolhida é imediata. A equipe psicossocial do hospital — composta por assistentes sociais e psicólogas — atua com sensibilidade e prontidão, garantindo não apenas o cuidado clínico, mas também o suporte emocional e social. A vítima e sua família são ouvidas, orientadas e protegidas. O caso é notificado conforme o protocolo, e já no momento da alta, a mulher sai encaminhada para a rede de proteção social, que inclui os Centros de Referência da Mulher, serviços de acolhimento dos municípios e a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.
“Esse mês nos faz refletir do quanto é urgente falar sobre o feminicídio. Nossa equipe tem promovido ações de conscientização com colaboradores, pacientes e familiares, reforçando onde e como buscar ajuda”, destaca a diretora geral da unidade, Roberta Monteiro. “Cuidamos, acolhemos e notificamos. Mas é preciso que toda a rede de proteção dessa mulher funcione. Que o vizinho não se cale e que a família não se cale e apoie essa mulher para romper esse ciclo”, completa.
Os dados revelam ainda que 38,64% das vítimas atendidas na unidade são de Jaboatão dos Guararapes, 28,41% do Cabo de Santo Agostinho e 27,73% de outras cidades do interior do Estado — o que reforça que a violência contra a mulher está presente em todos os territórios.
Para a assistente social Mariana Cabral, o mês de abril representa um chamado à responsabilidade coletiva: “Feminicídio não é um crime isolado. É o fim trágico de uma história de violência que poderia ter sido interrompida. O combate começa com a informação, passa pelo acolhimento e se fortalece com a denúncia. O Ligue 180 é um canal seguro e necessário.”
Neste mês de combate ao feminicídio, o Hospital Dom Helder reforça: violência contra a mulher não pode ser tolerada. Denunciar é um ato de amor, coragem e proteção. O silêncio também mata.