
O cenário global atual está marcado por uma instabilidade política intensa, impulsionada por guerras como os conflitos entre Israel e Irã, a guerra na Ucrânia e diversas tensões espalhadas pelo Oriente Médio, África e Ásia. Esses conflitos não apenas provocam destruição humana e deslocamentos em massa, mas também afetam profundamente a economia mundial. De acordo com o Global Peace Index, o impacto econômico da violência gira em torno de US$ 19 trilhões por ano, comprometendo investimentos, elevando os gastos militares e pressionando a estabilidade dos mercados. Um dos principais efeitos dessa instabilidade é a alta nos preços das commodities, com destaque para o petróleo, que tem oscilado em torno de US$ 77 por barril. Esse aumento impacta diretamente o custo de transporte, energia e produção industrial, o que acaba por alimentar a inflação em várias partes do mundo. Com os mercados financeiros mais voláteis, os investidores se tornam mais cautelosos, reduzindo o fluxo de capital e elevando os riscos para países em desenvolvimento.
No contexto urbano, essa conjuntura global afeta diretamente as cidades. A elevação dos preços de energia e transporte encarece a mobilidade urbana e afeta o custo de serviços públicos, enquanto a incerteza econômica limita a capacidade de investimento dos governos locais em infraestrutura, saúde e educação. Além disso, o aumento das desigualdades, impulsionado pela inflação e desemprego, intensifica tensões sociais e sobrecarrega os sistemas de assistência. No Brasil, os efeitos da crise internacional se somam a um cenário doméstico já frágil. A economia brasileira enfrenta um crescimento mais lento, com previsões do PIB entre 2 e 2,5% para 2025, após resultados melhores em 2024.
A inflação tende a se manter próxima ao teto da meta, forçando o Banco Central a manter a taxa Selic elevada, o que restringe o crédito e inibe o consumo. Politicamente, o governo federal enfrenta dificuldades para aprovar reformas estruturais, como o novo arcabouço fiscal, que busca limitar gastos públicos, mas encontra resistências e dúvidas quanto à sua efetividade. Esse panorama afeta diretamente as administrações municipais, que têm seus orçamentos comprimidos e enfrentam demandas crescentes por serviços em meio à redução de repasses e investimentos. As cidades brasileiras, especialmente as de médio e grande porte, têm sentido os impactos da crise global através do aumento de custos com combustíveis, pressão inflacionária nos alimentos e serviços, paralisação de projetos de infraestrutura e maior pressão sobre os sistemas de saúde e segurança pública.
A queda na arrecadação municipal e a concorrência por recursos tornam mais difícil manter políticas públicas em funcionamento, ao mesmo tempo em que crescem os desafios sociais. Para enfrentar esse cenário, é essencial que os municípios adotem estratégias de resiliência, com foco na eficiência fiscal, modernização da gestão pública e fortalecimento de economias locais. A adoção de tecnologias, automação de processos e melhorias na coleta e análise de dados podem ajudar na otimização dos recursos e na transparência, além de facilitar a tomada de decisões mais assertivas.
Ao mesmo tempo, é urgente que o país retome o planejamento estratégico de longo prazo, com políticas públicas mais robustas, sustentáveis e inclusivas, capazes de reduzir as desigualdades e aumentar a capacidade de reação das cidades frente aos choques globais. Em um mundo cada vez mais interconectado, a estabilidade política e econômica internacional não é mais apenas uma pauta diplomática, mas uma necessidade concreta para o desenvolvimento urbano e a qualidade de vida da população.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras