
A política pernambucana amanheceu nos últimos dias sob um forte sinal amarelo e não é por causa de pesquisas, articulações ou brigas partidárias. O alerta vem da Justiça Eleitoral, que tem cassado mandatos em série por fraude à cota de gênero. O caso mais recente, em Escada, onde cinco vereadores perderam o mandato por uso de candidaturas femininas fictícias, expôs um problema que se repete silenciosamente pelo estado há anos.
O recado é direto: não haverá tolerância para partidos que usam mulheres como “laranjas” apenas para cumprir os 30% mínimos exigidos por lei. A Emenda da Reforma Eleitoral endureceu o combate, o Ministério Público apertou o cerco e o Tribunal de Justiça Eleitoral tem confirmado as punições sem pestanejar, mesmo quando partidos tentam recorrer em cima da hora, como ocorreu no episódio de Escada.
E é aí que mora o ponto central: a Justiça não está apenas punindo o passado; ela está sinalizando o futuro. Em 2026, com eleições gerais, a lupa será ainda mais rígida. Partidos que historicamente recorrem a candidaturas fictícias terão duas opções: ou mudam suas práticas, ou arriscam ver chapas inteiras desmoronarem como castelos de areia.
Não se trata apenas de defender a legalidade, mas de valorizar a participação feminina real. Durante anos, partidos encararam a cota como burocracia, não como oportunidade. Criaram campanhas de fachada, candidatas que nunca imprimiram um santinho, que pediram zero votos, que fizeram postagens vazias só para “cumprir tabela”. Agora, o preço dessa irresponsabilidade está sendo cobrado, e cobrado caro.
A repercussão entre lideranças políticas tem sido silenciosa, mas intensa. Presidentes de partido correram para revisar suas listas, vereadores e pré-candidatos temem ser atingidos por efeito dominó e advogados eleitorais comemoram as agendas lotadas. Ninguém quer virar manchete às vésperas de 2026.
A pergunta é: será que finalmente os partidos vão tratar a participação feminina com seriedade? Ou veremos, mais uma vez, improvisos de última hora, candidaturas fantasmas e recursos protocolados fora do prazo, como se a Justiça Eleitoral funcionasse no improviso?
O fato é que Pernambuco entra no último ano pré-eleitoral com um recado muito claro: quem insistir em velhas práticas, cedo ou tarde, será alcançado pela Justiça. E, pelo ritmo das últimas decisões, a conta tem chegado rápido e com juros.
A política muda, os protagonistas se renovam, mas uma verdade permanece: a democracia não admite atalhos. E, desta vez, quem tentar cortar caminho pode acabar fora do jogo antes mesmo de a partida começar.
Por: Uanderson Melo, jornalista, radialista e teólogo




