Ao refletir sobre o papel de um gestor público hoje, especialmente ao administrar uma cidade, percebo o quanto essa função evoluiu. A transição de uma visão patrimonialista — onde o público era tratado quase como propriedade privada — para uma gestão pública gerencial, orientada por eficiência e resultados, marca uma mudança radical. Administrar uma cidade não é apenas organizar recursos ou manter a infraestrutura, mas sim uma missão complexa que demanda um alinhamento profundo com os valores e necessidades dos cidadãos.
Em essência, governar uma cidade é um exercício filosófico. No passado, o gestor agia como um soberano, tomando decisões em benefício próprio ou de grupos de poder. No entanto, a visão moderna entende que o patrimônio público é um bem comum, pertencente a todos e que deve ser gerido com responsabilidade. Cada decisão, por menor que seja, afeta a vida das pessoas, e, por isso, é essencial que o gestor aja como um facilitador, buscando sempre o bem-estar da comunidade.
Administrar com responsabilidade requer empatia e conexão com a realidade social. Uma cidade é composta por diversas regiões e realidades. Enquanto algumas áreas lutam por infraestrutura básica, outras clamam por melhorias em mobilidade ou inclusão digital. O gestor moderno precisa estar em sintonia com essas diferentes demandas, observando, ouvindo e compreendendo os desafios enfrentados diariamente pelos cidadãos. Mais do que isso, é necessário construir estratégias que respeitem essas peculiaridades e promovam um desenvolvimento equilibrado, contemplando as necessidades de todos.
Acredito também que o aspecto espiritual tem um papel fundamental na gestão pública. Mais que uma ocupação, governar uma cidade é uma vocação. O gestor público precisa ter um propósito claro, um compromisso com algo maior. Essa dimensão espiritual se reflete na maneira como vejo o poder: uma responsabilidade, e não um privilégio. A visão espiritual na administração me lembra constantemente de que cada ação deve ter uma intenção clara de promover o bem coletivo e deixar um legado positivo. O poder, quando exercido com propósito, reforça a necessidade de humildade e compaixão em cada decisão.
A visão gerencial, que vem se consolidando nas últimas décadas, traz consigo a importância da eficiência e da inovação. Mas, para que o modelo de gestão orientado a resultados seja realmente eficaz, ele deve ser integrado a uma gestão humana e responsável. Em cada projeto ou política pública, a prioridade deve ser sempre melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e promover uma cidade mais justa, acolhedora e inclusiva. A eficiência na gestão pública é crucial, mas deve ser um meio para atingir a dignidade e o bem-estar de cada cidadão, nunca um fim em si mesma.
Ao final, recordo que o papel como gestor é um serviço à sociedade. A administração pública exige um equilíbrio constante entre razão e emoção, eficiência e compaixão. A transição da visão patrimonialista para a gestão pública gerencial é um avanço, mas é vital que essa gestão seja humanizada e conectada aos valores mais profundos do bem comum. Uma cidade reflete a todos nós, e governá-la é, acima de tudo, um convite à consciência coletiva.
Jairo Lima é pós-graduado em gestão pública, membro da Academia Cabense de Letras e artista plástico