
A escola precisa, urgentemente, repensar seus modelos para que deixem de ser padrões rígidos e passem a considerar a complexidade e a diversidade das realidades dos estudantes. O atual modelo educacional, muitas vezes engessado e massificador, desconsidera as trajetórias individuais, os contextos sociais, emocionais, culturais e cognitivos de cada aluno. Isso faz com que muitos sejam interpretados não como sujeitos em potencial desenvolvimento, mas como problemas a serem corrigidos ou rotulados. A padronização excessiva transforma a escola em uma fábrica de diagnósticos e classificações, quando deveria ser um espaço de escuta, acolhimento e adaptação.
O processo de aprendizagem é profundamente influenciado por fatores que vão além do conteúdo curricular. Cada estudante chega à escola com uma bagagem única de vivências, afetos, habilidades e dificuldades. Ignorar essa singularidade é comprometer a qualidade da educação. O modelo tradicional, centrado em conteúdos uniformes e avaliações padronizadas, não dá conta das múltiplas formas de aprender e de expressar saberes. Ao invés de impulsionar o desenvolvimento, acaba limitando os caminhos possíveis. Muitos alunos, diante de metodologias pouco responsivas à sua realidade, desmotivam-se, adoecem emocionalmente ou abandonam a escola.
É preciso compreender que nem todos aprendem da mesma forma, que há múltiplas inteligências, ritmos e caminhos possíveis, e que a escola deve estar preparada para percorrê-los junto com seus alunos. Isso exige políticas públicas que assegurem flexibilidade curricular, formação continuada para os profissionais da educação, metodologias inclusivas e avaliações mais humanas. A escola que valoriza a escuta, que respeita o tempo do outro e que se abre para diferentes estratégias de ensino é aquela que, de fato, ensina. Não se trata de abrir mão de metas e resultados, mas de ampliar o conceito de sucesso escolar, entendendo que ele não pode ser único nem homogêneo.
Quando o foco se desloca do desempenho idealizado para o progresso real de cada indivíduo, a aprendizagem se torna mais significativa, e a escola passa a cumprir seu verdadeiro papel: ser um espaço onde todos têm o direito de aprender e se desenvolver, a partir de onde estão, com o que são, e na direção do que podem vir a ser. Isso é mais do que uma proposta pedagógica é um compromisso com a dignidade humana. Uma educação que se ajusta às realidades específicas não apenas inclui: transforma.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública