
A ausência da inteligência emocional na formação educacional e sua repercussão no mercado de trabalho são questões fundamentais que precisam ser enfrentadas com seriedade. No entanto, há outros aspectos igualmente relevantes que devem ser considerados para compreender a amplitude desse problema e encontrar soluções efetivas. Um deles é o impacto da era digital no desenvolvimento emocional das novas gerações. A hiperconectividade, o excesso de estímulos e a superficialidade das interações virtuais têm dificultado o desenvolvimento de habilidades como empatia, paciência, resiliência e autoconhecimento.
As redes sociais, por exemplo, criam um ambiente onde a comparação constante com padrões irreais gera ansiedade e frustrações, minando a autoestima dos jovens. Além disso, a busca incessante por validação externa impede a construção de uma identidade emocional sólida. A gestão pública precisa considerar esses fatores ao elaborar políticas educacionais, promovendo programas que ensinem os alunos a lidar de forma saudável com a tecnologia, desenvolvendo o pensamento crítico e a autorregulação emocional para evitar os danos psicológicos causados pelo uso excessivo das redes.
Outro ponto essencial é a formação dos professores. O sistema educacional exige que os docentes transmitam conteúdos acadêmicos, mas raramente os prepara para lidar com os desafios emocionais dos alunos. Muitas vezes, os professores são os primeiros a perceber sinais de ansiedade, depressão e dificuldades emocionais, mas não recebem capacitação para oferecer o suporte adequado. A implementação de treinamentos que incluam práticas de inteligência emocional e psicologia educacional ajudaria os educadores a entender melhor as necessidades emocionais dos estudantes e a criar um ambiente de aprendizado mais acolhedor.
Além da escola, o ambiente familiar tem um papel insubstituível na formação emocional das crianças. No entanto, vivemos uma realidade em que muitos pais não apenas carecem de inteligência emocional, mas também delegam à escola responsabilidades que deveriam ser compartilhadas entre a família e o sistema educacional. A ausência de diálogo dentro de casa e a falta de tempo dedicado ao convívio familiar fazem com que crianças e adolescentes cresçam sem referências emocionais sólidas. É urgente que a gestão pública desenvolva programas voltados à orientação parental, capacitando os pais a serem agentes ativos no desenvolvimento socioemocional dos filhos.
A sociedade como um todo precisa reconhecer que a inteligência emocional não é um luxo ou um complemento opcional à educação tradicional, mas sim uma necessidade urgente para a formação de indivíduos preparados para os desafios da vida. Ignorar essa realidade significa perpetuar um ciclo de insegurança emocional, baixa resiliência e dificuldades interpessoais que impactam tanto a vida pessoal quanto profissional das novas gerações.
Por isso, a implementação de políticas públicas voltadas à saúde mental e à educação emocional deve ser encarada como prioridade. É necessário que governos, educadores e famílias unam esforços para transformar a escola em um espaço onde, além do conhecimento acadêmico, os alunos aprendam a se conhecer, a compreender suas emoções e a desenvolver relações saudáveis. Somente assim será possível construir uma sociedade mais equilibrada, onde as futuras gerações terão mais maturidade para enfrentar os desafios da vida e do mercado de trabalho.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública