
Governar uma cidade demanda um conjunto de competências que abrange tanto o domínio técnico quanto a arte de negociar e articular politicamente. Não se trata de uma empreitada pautada em tentativas aleatórias ou em um domínio individualizado das decisões, mas sim de um processo que requer visão sistêmica, planejamento cuidadoso, observação de dados e, sobretudo, abertura para o diálogo. Essa postura reconhece que, quanto mais complexos os problemas a serem enfrentados, maior a necessidade de contar com um conselho ou grupo de pessoas que traga múltiplas perspectivas.
Mesmo Jesus, que possuía sabedoria extraordinária, não optou por executar sozinho a missão que lhe cabia; Ele chamou doze apóstolos e distribuiu a responsabilidade de levar adiante a sua Obra. Essa escolha evidencia a importância de compartilhar tarefas e envolver outros para que os objetivos sejam alcançados de forma abrangente. Na gestão pública ocorre algo semelhante, pois nenhum gestor, por mais talentoso que seja, consegue abarcar todas as dimensões dos desafios administrativos. Além disso, contar apenas com sua própria percepção implica riscos, pois a falta de diferentes olhares pode levar a análises distorcidas da realidade ou a soluções parciais.
Uma administração eficiente precisa de assessores e colaboradores com formação sólida nas mais diversas áreas, capazes de fornecer informações embasadas e de lidar com a pluralidade de demandas sociais, econômicas, culturais e políticas. Ao mesmo tempo, a articulação política é indispensável, pois não basta que as ideias sejam tecnicamente corretas, elas também precisam ser legitimadas e aceitas pelos diversos segmentos da sociedade e pelas instâncias legislativas. O exercício de ouvir, negociar e construir consensos é parte fundamental do processo de governar.
Quando há um grupo de aconselhamento político-administrativo, cria-se um espaço para a troca de ideias e para o enfrentamento dos dilemas que surgem na gestão. Esse conselho não deve ser mero formalismo; ele precisa se apoiar em dados, relatórios e análises, servindo de base para o governante tomar suas decisões com menor margem de erro. Assim como no exemplo dado por Jesus ao reunir pessoas de perfis e vivências distintas, a pluralidade fortalece a equipe e torna o governo mais responsivo às múltiplas realidades de uma cidade.
Abrir canais de participação popular também é essencial, pois governar implica o compromisso de zelar pelo interesse coletivo. Quanto mais se permite que a sociedade civil, setores produtivos e organizações comunitárias contribuam, maior se torna a legitimidade do que se decide e implementa. Essa transparência ajuda a conduzir as políticas públicas de forma mais eficiente, pois traz um conhecimento de campo que só as vozes locais podem fornecer.
Diante disso, é fundamental evitar o personalismo e o centralismo, já que nenhuma pessoa domina plenamente todas as questões e possibilidades que envolvem uma gestão. A ideia de que tudo poderia ser realizado sem a participação de outros não apenas ignora a complexidade das relações sociais e das demandas administrativas, como também negligencia o fato de que decisões melhores surgem do confronto respeitoso de diferentes pontos de vista. À semelhança de Jesus, que demonstrou a eficácia do trabalho em conjunto mesmo sendo dotado de sabedoria, o gestor que se cerca de apoiadores, especialistas e líderes comunitários caminha para uma governança mais sólida e efetiva, garantindo resultados mais duradouros e benéficos para a população.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública