
O envelhecimento da população brasileira, com seus 15,6 % de pessoas com 60 anos ou mais — número que deve alcançar 37,8 % ou 75,3 milhões de idosos em 2070 — exige respostas urgentes, mas também representa uma oportunidade poderosa. Atingir essa porcentagem em pouco mais de meio século coloca o Brasil diante de um desafio demográfico acelerado, muito mais rápido que o de países desenvolvidos, que levaram séculos para essa transição . Contudo, longe de ser apenas um peso para o Estado, uma população mais madura traz sabedoria, experiência, resiliência e estabilidade social — qualidades que, se bem aproveitadas, fortalecem comunidades e serviços públicos.
Em países como Suíça, Noruega, Suécia, Canadá e Alemanha, o envelhecimento é recebido com políticas abrangentes que garantem bem-estar, acesso à saúde, pensões adequadas e ambientes urbanos adaptados, elevando significativamente a qualidade de vida dos idosos . No Japão, apesar dos desafios econômicos, a velhice é sinônimo de sabedoria e longevidade; os idosos costumam ser figuras centrais na família e na comunidade, cuja contribuição cultural e social é valorizada, evidenciando que respeitar a maturidade é também uma construção civilizatória .
No Brasil, o Estatuto da Pessoa Idosa já assegura prioridade no acesso à saúde, transporte, cultura e serviços, garantindo que a maturidade seja tratada com respeito e dignidade . Mas é necessário ir além. Municípios podem promover a criação de Universidades da Terceira Idade — espaços de aprendizado, socialização e protagonismo para os idosos, inspirados em modelos internacionais que valorizam suas experiências e conhecimentos . Políticas de envelhecimento ativo, que incentivem o voluntariado, a participação cidadã e o trabalho adaptado, revelam que os idosos podem continuar participando com vigor — seja como mentores, cuidadores informais ou agentes comunitários.
O reconhecimento da contribuição econômica e social dos idosos também merece destaque. Por exemplo, na Austrália, mulheres entre 65 e 74 anos contribuem com 16 bilhões de dólares australianos por ano em cuidados não remunerados e voluntariado, enquanto os homens dessa faixa etária contribuem com outros 10 bilhões — mostrando o valor invisível e essencial que essa população já oferece à sociedade .
Portanto, longe de ver o envelhecimento como um fardo, os municípios precisam abraçar políticas públicas que promovam integração social, educação continuada, ambientes urbanos acessíveis e valorização ativa do papel do idoso. Criar programas intergeracionais, investir em saúde preventiva, adaptar espaços públicos e reconhecer formalmente o valor social dos idosos são passos que transformam a maturidade em riqueza coletiva. Ao espelhar boas práticas internacionais e reconhecer a sabedoria da experiência, o Brasil não apenas se prepara para um futuro inevitável — entrega à população idosa o protagonismo que merece e ao país, um caminho mais justo, solidário e sábio.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública