
As recentes medidas adotadas pelo presidente Donald Trump, especialmente no que diz respeito à taxação de produtos estrangeiros e à extensão dos cortes tributários promovidos em seu mandato anterior, têm provocado repercussões globais que vão muito além das fronteiras americanas. Embora o debate internacional esteja polarizado, é perceptível que há uma camada de líderes e nações que enxergam nessas ações um sinal de força e soberania econômica, em um mundo cada vez mais marcado por disputas ideológicas e interesses comerciais. No contexto brasileiro, onde o governo federal tem demonstrado aproximação com regimes autoritários e respaldo a uma postura institucional inflexível — especialmente com o fortalecimento do Supremo Tribunal Federal em diversas agendas políticas e sociais —, as ações de Trump ressoam, de forma discreta, como uma reafirmação do poder de decisão independente diante de um cenário geopolítico conturbado.
Contudo, é indispensável considerar os impactos concretos que essas decisões acarretam sobre a economia brasileira e, em especial, sobre seus 5.570 municípios. A imposição de tarifas elevadas sobre produtos-chave da exportação brasileira, como o café, com alíquota prevista de até 50%, ameaça diretamente a cadeia produtiva de dezenas de cidades do interior de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Municípios que sustentam sua economia com a produção agrícola para exportação verão a demanda internacional cair, os preços internos despencarem e a arrecadação municipal ser severamente comprometida. O impacto se estende da renda do pequeno produtor ao caixa das prefeituras, afetando diretamente serviços básicos como saúde, educação e transporte.
Além disso, as tarifas mais agressivas sobre produtos manufaturados afetam diretamente o setor industrial brasileiro, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. O aumento do custo dos insumos importados, aliado à instabilidade cambial, compromete a competitividade das indústrias locais, reduzindo sua capacidade de produção e forçando demissões em massa. Cidades que dependem da indústria como principal geradora de empregos sentirão o golpe com mais intensidade: menos consumo, menos arrecadação e mais tensão social. As prefeituras, nesse contexto, terão menos recursos para investir e mais demandas sociais para enfrentar.
Outro fator preocupante é a valorização do dólar frente ao real, resultado indireto da política econômica protecionista de Trump. A fuga de capitais para os Estados Unidos, impulsionada pelas tarifas e pela promessa de cortes fiscais, pressiona a moeda brasileira e provoca uma inflação silenciosa, mas contínua. Produtos importados, combustíveis, medicamentos e alimentos sobem de preço, afetando diretamente o custo de vida da população, especialmente nas cidades médias e pequenas. Os efeitos dessa inflação municipalizada recaem sobre o consumidor final, que vê seu poder de compra diminuir, ao mesmo tempo em que os municípios se veem impedidos de ampliar programas sociais ou realizar obras de infraestrutura.
Embora as medidas do presidente Trump sejam vistas por muitos com simpatia por expressarem uma liderança firme e alinhada a ideais de soberania nacional, é preciso reconhecer que seus desdobramentos afetam diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros. Em última instância, são os municípios — a instância mais próxima do povo — que sentem primeiro e mais profundamente os efeitos das decisões internacionais. E nesse cenário, os impactos se refletem em creches que deixam de ser construídas, em estradas que não são pavimentadas e em famílias que precisam escolher entre pagar o aluguel ou colocar comida na mesa.
A força de uma nação pode até se expressar em decisões duras e autônomas, mas os efeitos dessas posturas precisam ser cuidadosamente observados. O Brasil, ao flertar com alinhamentos estratégicos e ideológicos, não pode perder de vista que a economia real pulsa nos mercados das cidades, nos empregos locais e nas finanças das prefeituras. E são essas estruturas, muitas vezes invisíveis aos olhos da alta política, que acabam pagando o preço das disputas travadas nos palácios do poder.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública.