
Por Uanderson Melo
A política em Pernambuco já entrou em clima de eleição e com um grau de antecipação que revela o quanto o embate entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), transcende o mero calendário eleitoral. Faltando ainda um ano e quatro meses para o pleito de 2026, os dois principais nomes na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas já estão trocando farpas indiretas, mobilizando aliados e, agora, travando uma disputa que chegou ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) e que já respinga até no Tribunal de Contas da União (TCU).
O que era para ser uma arena técnica e institucional, virou mais um front político. Conselheiros do TCE-PE vêm sendo colocados sob pressão cruzada, com dossiês, vazamentos seletivos e articulações nos bastidores. As suspeitas de favorecimento, perseguição e interferência política estão no ar, com acusações veladas (ou nem tanto) partindo de ambos os campos. Há quem diga que essa disputa é, na verdade, uma guerra de narrativas que visa enfraquecer preventivamente o adversário, desgastando sua imagem antes que a campanha de fato comece.
Raquel Lyra, que busca consolidar sua liderança estadual, tenta proteger seu governo de críticas vindas da capital e de aliados de João Campos. Já o prefeito, herdeiro de um capital político expressivo e com ambições evidentes de voos mais altos, quer ampliar sua projeção estadual e, para isso, precisa minar a autoridade da atual governadora. E onde há orçamento, contratos e auditorias, há espaço para disputa.
Mas a politização dos órgãos de controle representa um risco. A credibilidade do TCE é um ativo institucional que não pode ser corroído por interesses eleitorais. O uso político de conselheiros ou de pareceres pode gerar um efeito bumerangue: mancha os envolvidos, desgasta a confiança da população e compromete a legitimidade de futuras decisões.
A briga João x Raquel promete ser a mais intensa em Pernambuco desde os tempos de Eduardo Campos e Jarbas Vasconcelos. Mas se antes o debate se dava no campo das ideias e das alianças, hoje ele se alastra por instituições que deveriam estar blindadas da arena partidária.
O jogo começou cedo. E se continuar nesse ritmo, a eleição de 2026 em Pernambuco não será apenas uma disputa de votos será também um teste de resistência das instituições. O problema é que, nesse fogo cruzado, quem pode sair queimado é o próprio interesse público.
Uanderson Melo é jornalista, radialista e teólogo