
A política exige vocação, sensibilidade e jogo de cintura. E é justamente na ausência desses atributos que repousa o fracasso anunciado da governadora Raquel Lyra (PSD), que caminha a passos largos rumo ao isolamento político e à desidratação de seu projeto rumo a 2026. A gestão que começou sob grande expectativa, especialmente após romper a hegemonia de forças tradicionais, hoje amarga uma série de derrotas políticas e administrativas, fruto de escolhas equivocadas e da falta de identidade clara de sua liderança.
O que se vê em Pernambuco é um governo que prometeu transformação e entrega resultados aquém das necessidades urgentes da população. Programas emblemáticos como o Juntos pela Educação e o Juntos pela Segurança não conseguiram se converter em melhorias concretas no cotidiano dos pernambucanos. O povo continua vendo escolas carentes de estrutura e uma insegurança latente nos bairros, sem sentir o impacto de políticas públicas eficazes. O marketing do “juntos” não esconde mais a realidade de um governo que governa distante da realidade.
Na saúde, o retrato é ainda mais preocupante. Hospitais sucateados, falta de profissionais e, mais recentemente, a escassez de leitos pediátricos para crianças com síndromes respiratórias colocaram a população em alerta. A fragilidade da rede pública escancara o despreparo e a falta de planejamento da gestão estadual em lidar com crises previsíveis e cíclicas.
Do ponto de vista político, a governadora parece perdida entre dois mundos. Foi eleita com forte apoio do eleitorado bolsonarista, mas desde os primeiros dias de mandato tenta apagar essa ligação, adotando uma postura de bajulação explícita ao presidente Lula (PT). Raquel quer estar onde não é bem-vinda. O esforço para se aproximar do governo federal tem sido interpretado mais como desespero do que estratégia. E agora, Lula deu o recado definitivo.
Neste domingo, 1º de junho, durante a posse de João Campos (PSB) como presidente nacional do partido, Lula cravou: “A minha relação com o PSB é carnal. Estamos ligados umbilicalmente.” A frase foi a pá de cal em qualquer pretensão de aliança entre o PT e Raquel em Pernambuco. João Campos, o maior rival político da governadora no estado, saiu fortalecido e ungido como interlocutor direto do Palácio do Planalto, enquanto Raquel assiste de fora e sem cadeira cativa à construção da coalizão de centro-esquerda que se desenha para 2026.
A crise política também alcança a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), onde Raquel comprou brigas desnecessárias com parlamentares e, em especial, com o presidente da Casa, Álvaro Porto, político experiente, articulado e respeitado por ampla maioria. O resultado é um governo sem base sólida, sem articulação e sem governabilidade. Como se não bastasse, uma comissão suprapartidária de deputados denunciou, na semana passada, possíveis desvios de finalidade na aplicação de recursos federais provenientes de um empréstimo de R$ 1,7 bilhão com a Caixa Econômica Federal. Fala-se até em abertura de uma CPI um fantasma que assombra ainda mais o Palácio do Campo das Princesas.
A governadora Raquel Lyra se isola. Se afoga em seu próprio ego. Perde aliados, erra o tom e, acima de tudo, revela que lhe falta o essencial: sangue político nas veias. O que era esperança virou frustração. E o que se desenha para 2026, se nada mudar drasticamente, é o naufrágio de um projeto que nasceu sem bússola, sem timoneiro e, pior, sem rumo.
Por Uanderson Melo, jornalista, radialista e teólogo.