
Durante décadas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reinou absoluto no imaginário popular nordestino. A região, marcada por desigualdades históricas, encontrou na figura de Lula — nascido em Caetés (PE) e forjado na luta sindical — um símbolo de esperança e ascensão social. Não à toa, o Nordeste sempre foi seu reduto político mais fiel. Em 2022, por exemplo, a Bahia ofereceu ao petista uma votação expressiva que ajudou a garantir sua vitória nacional. Mas os tempos parecem estar mudando.
As últimas pesquisas apontam um desgaste significativo do governo Lula, inclusive nos estados onde antes sua aprovação era praticamente inquestionável. Na Bahia, o cenário chama atenção: a avaliação negativa do governo já supera a positiva, algo impensável há poucos anos. No Recife, no interior do Ceará, no sertão de Alagoas — o que antes era “terra de Lula” agora se mostra mais crítica, mais exigente, e sobretudo, mais conectada com as transformações do país.
Lula já não é mais unanimidade. E o mais simbólico é que, ainda que lidere pesquisas de intenção de voto para 2026 contra a maioria dos nomes da direita, as margens estão mais apertadas. Contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Lula venceria, mas sem folga. Contra Bolsonaro, os cenários variam: ora perde, ora ganha. Um sinal claro de que o “lulismo” enfrenta hoje um dos maiores desafios desde sua ascensão ao poder em 2002 — a perda do encanto e da centralidade no debate político nacional.
Enquanto isso, o campo conservador — mesmo sob a ameaça de uma possível condenação e prisão de Bolsonaro pelo STF — faz um movimento que o PT parece incapaz de fazer: renovar-se. A direita começa a abrir espaço para novas lideranças, ensaia alternativas, e reconhece que há um limite para o personalismo político. A frase “Bolsonaro é o plano A, Tarcísio é o plano B” resume bem o atual xadrez da oposição.
O PT, por outro lado, segue preso à figura de Lula como se fosse um ativo infalível. A legenda parece não conseguir agir como usuários da OLX, são incapazes de “desapegar” do seu produto mais valioso, mesmo que o produto já não atenda às exigências do novo mercado. A política econômica do governo mostra-se desatualizada para o atual cenário global. O discurso social está preso à lógica do passado. E o contato com as novas gerações — que vivem conectadas, exigentes e politicamente voláteis — é cada vez mais distante.
Em resumo, o governo Lula está em desgaste acelerado. Ainda não é irreversível, mas é real. E o fato de isso ocorrer justamente em sua base mais fiel revela o tamanho da crise.
A disputa de 2026 ainda está distante, mas o cenário está se desenhando. E ele mostra um país mais dividido, mais pragmático, menos emocional — e cada vez menos disposto a seguir mitos políticos, sejam eles de esquerda ou de direita.