
O Palácio do Campo das Princesas parece ter mudado de vocação. Se antes era símbolo de comando e gestão do Estado, hoje vai se transformando em algo muito mais parecido com um abrigo político: o maior cabide de empregos da história de Pernambuco. A governadora Raquel Lyra tem nomeado, em ritmo acelerado, ex-prefeitos e ex-candidatos derrotados, figuras que o povo rejeitou nas urnas, mas que agora voltam ao poder pela porta dos fundos, sustentados pelo dinheiro público.
Nunca se viu algo desse tamanho: a lista de ex-prefeitos agraciados é extensa e cresce mês a mês. Até aí, é verdade, não há ilegalidade — afinal, cargos comissionados são instrumentos de qualquer governo. Mas a questão é moral e política: vale a pena reforçar sua imagem cercando-se justamente de quem o povo não quis mais ver em cargos públicos?
Em janeiro, 22 ex-prefeitos foram nomeados para funções estratégicas na Casa Civil. Gente de peso e de passado recente nas prefeituras: Professor Lupércio (Olinda), Nadegi Queiroz (Camaragibe), Célia Sales (Ipojuca), Raimundo Pimentel (Araripina), Judite Botafogo (Lagoa do Carro), entre outros. A leitura política é clara: Raquel tenta montar capilaridade em todas as regiões, garantindo presença estadual de sua base e preparando terreno para 2026.
O problema é que muitos desses nomes não deixaram saudades em seus municípios. Pelo contrário: perderam eleições, não conseguiram eleger sucessores e saíram das prefeituras com forte rejeição popular. Recolocá-los agora em cargos de confiança, pagos pelo Estado, soa mais como premiação pela derrota do que reconhecimento por méritos.
E a fila não parou por aí. O caso mais emblemático dos últimos dias foi o de Adilma Lacerda, derrotada nas eleições em Ipojuca, quando enfrentou o clã dos Sales e não conseguiu convencer o eleitorado. Adilma, que já tinha o apoio formal do PSDB e do grupo político de Raquel Lyra, acabou nomeada em cargo de confiança no governo estadual. Ou seja: foi rejeitada nas urnas, mas encontrou no Palácio o abraço que o eleitor negou, como o ex-prefeito do Cabo Kiko do Armazém, fez uma gestão catastrófica, não se reelegeu, mas, encontrou refúgio no governo de Raquel.
Esse gesto não apenas reforça a percepção de que o governo virou refúgio de derrotados, mas também alimenta a crítica de que a governadora está mais preocupada em pagar favores políticos e segurar apoios do que em valorizar quadros técnicos ou nomes com histórico positivo de gestão.
É claro que ninguém governa sem alianças. A política exige base, articulação, presença nos municípios. Mas o que se vê hoje é um inchaço de cargos para satisfazer apadrinhados — uma estratégia que, ao invés de fortalecer a imagem de gestora moderna e eficiente, pode corroê-la.
O discurso de renovação e austeridade que levou Raquel ao poder perde força diante da imagem de uma Casa Civil lotada de ex-prefeitos derrotados, muitos deles lembrados por administrações desastrosas. Para o eleitor comum, fica a sensação de que seu voto pouco vale: se rejeitar alguém nas urnas não basta para afastá-lo do poder, então qual é o sentido do processo democrático?
A conta dessa estratégia pode vir cara. A curto prazo, Raquel fortalece sua base. A longo prazo, corre o risco de perder o discurso que a elegeu. O eleitor que votou nela esperando eficiência e técnica pode não engolir um governo que mais parece um balcão de acomodação de interesses.
Se o Palácio virou refúgio para os derrotados, a pergunta que fica é: quem, de fato, está ganhando com isso? O povo, certamente, não.