
Na política, os adversários externos são os mais fáceis de identificar. Eles estão no palanque oposto, carregam bandeiras diferentes, defendem outras agendas. O verdadeiro problema e talvez o mais danoso é quando o inimigo está dentro de casa, sentado à mesa, ocupando espaço estratégico e participando de conversas que deveriam estar protegidas pela confiança.
São esses agentes duplos, que se vestem de aliados, mas atuam como sabotadores silenciosos. Pessoas que transitam com sorriso no rosto, mas que, no fundo, jogam em benefício de outros interesses, às vezes de um adversário direto, outras vezes de um colega da própria gestão que busca, na sombra, ganhar mais espaço e poder. E não podemos esquecer: há também aqueles que se movem simplesmente pelo dinheiro. Gente que ama o dinheiro acima de qualquer ideal, e por ele é capaz de negociar princípios, trair projetos e vender a própria palavra.
Esse comportamento pode assumir várias roupagens: o clientelismo barato, que transforma cargos em moedas de troca; a falta de lealdade, que coloca ambição pessoal acima de qualquer projeto coletivo; ou a dissimulação, que mina decisões estratégicas ao vazar informações, criar intrigas e enfraquecer lideranças.
Exemplos não faltam na política brasileira. Quem não se lembra de governos que caíram não pela força da oposição, mas pela corrosão interna, pela traição de quem deveria estar fortalecendo o projeto? Muitas vezes, a instabilidade não vem de fora, mas do fogo amigo, da conspiração entre paredes.
É por isso que líderes precisam estar atentos. Confiar é essencial, mas confiança cega pode ser uma armadilha fatal. Identificar quem joga em dois lados, quem tem discurso em público e outro em privado, é tão importante quanto enfrentar adversários declarados.
A estratégia, nesse caso, não é apenas afastar esses personagens, mas neutralizá-los. Dar funções que não ofereçam poder de barganha, manter vigilância sobre suas ações e, sobretudo, não permitir que tenham acesso a decisões sensíveis ou cargos estratégicos. Em outras palavras, manter o inimigo amarrado, distante da engrenagem principal, sem chance de sabotar.
Porque a verdade é dura: um traidor dentro do grupo pode fazer mais estrago do que dez adversários declarados. A lealdade, em política, não é um detalhe, é a base que sustenta qualquer projeto de poder. Sem ela, o castelo desmorona por dentro.