
É fácil se encantar com discursos inflamados, promessas de soluções imediatas e atitudes que colocam o povo no centro — ao menos na retórica. O populismo é, sem dúvida, uma prática sedutora. Ele fala diretamente à emoção do cidadão comum, se apresenta como a voz do povo contra as “elites políticas” e muitas vezes oferece respostas simples para problemas complexos. Mas essa sedução tem um preço. E quem paga, invariavelmente, é a sociedade.
No Brasil, a prática do populismo é um velho conhecido das campanhas eleitorais. Políticos que se apresentam como “gente como a gente”, que prometem resolver tudo “com coragem e vontade”, ganham facilmente a simpatia de quem está cansado da morosidade da máquina pública. Mas, após a festa das urnas, vem a ressaca da realidade: esses mesmos líderes, na maioria das vezes, demonstram um total despreparo técnico e gerencial para administrar uma cidade, um estado ou o país.
O populismo pode até garantir sucesso eleitoral — e, de fato, garante. Mas dificilmente assegura sucesso na gestão pública. Isso porque administrar não é apenas ter boa vontade ou empatia com o sofrimento popular. Governar é lidar com orçamento, planejamento, metas, prioridades, legalidade, controle de gastos, indicadores de desempenho e políticas públicas estruturadas. É preciso saber dizer “não” a soluções imediatistas que causam aplausos no presente, mas comprometem o futuro.
É comum ver o político populista promover ações de forte apelo emocional, como distribuir cestas básicas em grande escala, inaugurar obras inacabadas ou criar programas de auxílio sem estudo técnico ou sustentabilidade fiscal. Tudo isso gera manchetes, curtidas, votos — mas não transforma estruturalmente a realidade social. Pior: muitas vezes fragiliza ainda mais os serviços públicos ao retirar recursos de áreas estratégicas para sustentar ações pontuais.
Enquanto isso, as políticas públicas sustentáveis — aquelas que realmente impactam a vida das pessoas a médio e longo prazo — são deixadas de lado por não renderem frutos imediatos ou não servirem como palanque. Elas exigem planejamento, estudos, pactuação com diversos setores, e, principalmente, paciência. São obras de longo prazo: alfabetização plena, mobilidade urbana integrada, prevenção de doenças, valorização do magistério, desenvolvimento econômico regional. Mas são essas ações que verdadeiramente mudam o destino de uma cidade.
O desafio do gestor público, portanto, é resistir ao canto da sereia do populismo e abraçar o caminho mais árduo — porém mais frutífero — da responsabilidade administrativa. É preciso coragem para ser impopular no presente em nome do bem coletivo futuro. E é exatamente essa coragem que diferencia o político do estadista.
Infelizmente, enquanto boa parte do eleitorado continuar votando com o coração ferido, e não com a razão crítica, o populismo continuará encontrando terreno fértil no Brasil. Por isso, o nosso papel como cidadãos conscientes deve ser o de valorizar projetos e não apenas promessas. Gestores e não apenas políticos. Caminhos sustentáveis e não apenas atalhos fáceis.
O Brasil precisa de líderes que tenham preparo, responsabilidade e visão de longo prazo — e não apenas boa oratória e presença nas redes sociais.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública