A gestão pública no Brasil enfrenta grandes desafios, e uma das questões que mais me intriga é o motivo de ainda estarmos tão atrasados em comparação com outros países. Esse atraso é resultado de uma combinação de fatores culturais, históricos e estruturais que, ao longo do tempo, moldaram a forma como o setor público opera no país.
Historicamente, o Brasil desenvolveu uma cultura política baseada no clientelismo e no personalismo, onde relações de poder e favores pessoais muitas vezes prevalecem sobre a eficiência administrativa. Esse modelo remonta ao período colonial e ao sistema de capitanias hereditárias, quando os privilégios e acordos informais guiavam a administração pública. Infelizmente, esses traços continuam presentes na nossa cultura política, criando um ambiente onde a meritocracia e a eficiência nem sempre são prioridades.
Culturalmente, essa herança alimenta a ideia de que o setor público serve mais aos interesses de quem está no poder do que ao bem comum. A centralização excessiva, a burocracia e o uso da máquina pública para beneficiar grupos específicos são reflexos dessa mentalidade. Isso dificulta a implementação de políticas de longo prazo, que são essenciais para modernizar a administração e torná-la mais eficaz.
Ao comparar o Brasil com países como a Estônia, Cingapura e até mesmo com alguns vizinhos latino-americanos, a diferença é gritante. A Estônia, por exemplo, transformou-se em um dos países mais digitais do mundo, com quase todos os serviços públicos disponíveis online. Esse avanço foi possível graças a uma visão de gestão pública focada em eficiência e transparência, sem a interferência das amarras do clientelismo. Já Cingapura, com uma abordagem meritocrática e voltada para o desenvolvimento contínuo, tornou-se um exemplo de como um governo pode funcionar de forma enxuta e eficiente.
No Brasil, a lentidão e a resistência à inovação são, em parte, frutos dessa visão cultural ultrapassada, aliada à falta de investimento em modernização. Enquanto outros países implementaram reformas estruturais focadas em inovação, tecnologia e valorização do mérito, aqui ainda nos debatemos com uma estrutura engessada, onde a burocracia se impõe como um obstáculo à eficiência.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil está entre os países com maior gasto público em relação ao PIB, mas sem conseguir transformar esse investimento em serviços de qualidade para a população. Isso evidencia o abismo entre o que gastamos e o que entregamos, mostrando que o problema não é apenas financeiro, mas de gestão.
Se quisermos avançar, precisamos romper com a cultura do improviso e do favoritismo e adotar uma mentalidade de gestão mais voltada para o cidadão. O Brasil tem potencial para ser um país de referência, mas isso exige coragem para enfrentar questões históricas e culturais que impedem a modernização do setor público. Somente com essa mudança de mentalidade conseguiremos alcançar uma gestão pública eficiente e eficaz, à altura das necessidades da população.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista e gestor público