
A novela do empréstimo bilionário da governadora Raquel Lyra (PSD) ganhou mais um capítulo que confirma aquilo que a oposição vinha alertando há meses, e que parte da opinião pública preferiu ignorar: o contrato assinado esta semana com o Banco do Brasil, de mais de R$ 1,5 bilhão, não tem relação direta com o projeto que a governadora vendeu à sociedade como o “empréstimo do Arco Metropolitano”.
Quando o Projeto de Lei nº 2692/2025 chegou à Alepe, em março, o Governo afirmava em alto e bom som que os recursos seriam destinados às obras estruturadoras do Arco Metropolitano e da duplicação da BR-232, numa tentativa clara de sensibilizar a opinião pública e forçar o Legislativo a aprovar a proposta. O discurso era de urgência, quase de salvação. O tom, de cobrança.
Raquel foi para o embate político pressionou a Assembleia, estimulou campanhas públicas e jogou a sociedade contra os deputados. Em seus discursos, construiu a narrativa de que o “travamento” da Alepe era o que impedia Pernambuco de “andar pra frente”. Porém, o contrato final assinado não menciona o Arco Metropolitano nem a BR-232, mas sim o Programa de Desenvolvimento Multissetorial, coordenado pela Secretaria de Planejamento e Gestão, com objetivos amplos e genéricos, como “redução de desigualdades” e “investimentos em infraestrutura”.
Em bom português: o empréstimo foi aprovado para uma coisa e usado para outra. E isso explica o motivo de tantos parlamentares terem resistido à pressão do Palácio do Campo das Princesas. Eles sabiam, e estavam certos, que o Governo de Raquel Lyra tem abusado do discurso técnico para esconder uma política de endividamento preocupante.
Os números não mentem. Entre 2023 e 2024, a Alepe já havia autorizado mais de R$ 9 bilhões em empréstimos, mas até agora menos de R$ 3 bilhões foram efetivamente captados. Ou seja, o Governo tinha cerca de R$ 6 bilhões “engavetados”, disponíveis para investir em obras estruturais, sem precisar contrair novas dívidas. Mesmo assim, preferiu seguir o caminho do empréstimo, que virá com juros e compromissos que vão pesar no bolso dos pernambucanos e das futuras gestões.
O resultado é um cenário preocupante: Pernambuco mergulha cada vez mais fundo num mar de dívidas, enquanto o discurso de eficiência e planejamento da governadora perde força diante dos fatos. Raquel Lyra, que se elegeu pregando responsabilidade e equilíbrio fiscal, vai consolidando uma imagem oposta a de uma gestora que prefere o atalho dos bancos à boa gestão dos recursos públicos.
Enquanto isso, na Alepe, os parlamentares da oposição saem fortalecidos, pois provaram que suas críticas não eram “birras políticas”, mas alertas sérios e fundamentados. O tempo e o contrato assinado, deram razão a quem enxergou além da retórica.
Raquel, a essa altura, precisa entender que governar não é empurrar o futuro para o próximo é assumir o presente com transparência, responsabilidade e coerência. Pernambuco não precisa de uma “gestão de empréstimos”, mas de uma liderança que saiba fazer mais com o que já tem.
E no fim das contas, o empréstimo que era do Arco acabou virando um arco-íris de dívidas, com o pote de ouro ficando, mais uma vez, para os bancos.