
Programas sociais têm sido instrumentos fundamentais no combate à extrema pobreza no Brasil. A exemplo do Bolsa Família, essas iniciativas buscam garantir condições mínimas de sobrevivência, assegurando alimentação, saúde e dignidade a milhões de brasileiros. No entanto, a discussão pública sobre tais políticas costuma oscilar entre dois extremos: a defesa incondicional, como se fossem a solução definitiva, ou a crítica radical, como se representassem apenas mecanismos de dependência e manipulação política. A realidade, porém, exige uma análise equilibrada: os programas sociais são necessários, mas não suficientes.
Não há como negar que a transferência de renda tem impacto positivo direto na vida das famílias mais vulneráveis. Ela reduz a insegurança alimentar, possibilita o acesso a serviços básicos e diminui desigualdades em curto prazo. Em cenários de crise, tais programas funcionam como um amortecedor social, evitando que a pobreza extrema atinja níveis insustentáveis. Contudo, é igualmente necessário reconhecer que, sozinhos, esses programas não conseguem alterar de maneira estrutural a realidade de exclusão. Quando prolongados sem integração com outras políticas, podem gerar um quadro de dependência e, em alguns casos, serem usados como capital político, prendendo parte da população à lógica do assistencialismo.
Se a transferência de renda representa um alívio emergencial, é a educação que abre portas para a emancipação. Uma escola pública de qualidade, inclusiva e capaz de formar cidadãos críticos e profissionais preparados, é o verdadeiro antídoto contra o ciclo de pobreza. Investir em educação significa oferecer oportunidades reais de inserção produtiva, ampliar a capacidade de escolha dos indivíduos e reduzir a vulnerabilidade a interesses partidários. É pela educação que o cidadão deixa de depender do benefício para conquistar sua autonomia econômica e social.
A solução, portanto, não está em extinguir programas sociais, tampouco em defendê-los como salvação única. O desafio é integrá-los a uma agenda robusta de políticas públicas que envolvam educação básica e superior de qualidade, com foco em alfabetização plena, competências digitais e formação técnica; capacitação profissional e acesso ao mercado de trabalho, conectando beneficiários a oportunidades reais de emprego e empreendedorismo; e fortalecimento da gestão pública, garantindo transparência, eficiência e foco em resultados.
Programas sociais são indispensáveis para mitigar desigualdades urgentes, mas não devem ser vistos como um fim em si mesmos. O futuro da gestão pública passa pela construção de um modelo em que a assistência imediata caminhe lado a lado com políticas estruturantes, especialmente na educação. Somente assim será possível transformar a ajuda emergencial em oportunidade duradoura, garantindo que cada cidadão conquiste autonomia, liberdade e dignidade, longe da dependência permanente do poder público e dos interesses partidários.
Jairo Lima, membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e gestor público
* Aviso aos leitores
Encerramos aqui um ciclo de reflexões sobre gestão pública nesta coluna do Radar Metropolitano. Foram meses de análises, provocações e diálogos que buscaram contribuir para um olhar mais consciente e crítico sobre as políticas e práticas que moldam nossa vida coletiva.
Na próxima semana, iniciaremos uma nova jornada. Estarei assinando uma coluna inédita, desta vez voltada ao comportamento humano à luz da espiritualidade. Será um espaço para pensar nossas escolhas, sentimentos e relações sob perspectivas que unem razão, fé e sentido de vida.
Prepare-se para textos que provocarão curiosidade, abrirão caminhos de reflexão e convidarão cada leitor a enxergar a si mesmo e ao mundo de forma mais profunda. A gestão pública se despede por aqui, mas a busca por compreender a essência humana continua — e de um jeito ainda mais instigante.
Nos encontramos no próximo capítulo.