Patinho feio das despesas orçamentárias nas três esferas de governo – federal, estadual e municipal – o setor de Saúde do Cabo de Santo Agostinho, como ocorre praticamente em todo o País, continua na UTI e, portanto, em situação crítica no funcionamento dos hospitais e postos de saúde, onde é crônica a falta de pessoal médico e de enfermagem, além de equipamentos e de medicamentos.
Essa situação faz do setor de saúde a vitrine ideal não para governos nos três níveis mostrarem suas realizações, mas para receber as pedradas que pelo efeito multiplicador junto ao eleitorado colocam no mesmo lado tanto opositores quanto apoiadores do governo de plantão. Foi o que ocorreu nesta terça-feira (07/11), na sessão da Câmara Municipal, que colocou a Saúde na berlinda.
Quem jogou a primeira pedra foi o vereador Jamerson Batera (PSB), ao falar de uma visita que fez ao Hospital Mendo Sampaio, quando realizou uma filmagem do abandono dos pacientes. “Não tem como ficar calado quando se chega numa unidade hospitalar e vê-se as pessoas pedindo, clamando por uma remoção”, disse para indagar se falta no hospital dinheiro, coragem ou responsabilidade.
Em aparte, o vereador Jobinho (PP), do mesmo partido do prefeito Keko do Armazém, referiu-se a uma visita que fez ao Hospital Infantil e pelo que viu constatou que a unidade “está um caos”. A médica de plantão relatou ao vereador que não estava dando conta do atendimento, e disse que uma criança com 38 graus de febre estava esperando chegar a 40 graus para ser atendida como emergência.
Médico e ex-secretário de Saúde do município, o vereador Dr. Zé Carlos (PDT) isentou os médicos e a enfermagem de responsabilidade pela situação. Ele apontou a má utilização dos recursos da saúde e citou como exemplo a compra de uma ambulância por R$ 500 mil, em vez de se gastar R$ 100 mil na compra de instrumentos e dar condição para os médicos poderem trabalhar.
Enfermeira, a vereadora Sueleide de Amaro, também do partido de Keko do Armazém, repetiu que “a saúde do nosso município está na UTI e a administração não está nem aí para a população”. Após afirmar que “é revoltante” a situação da Saúde no Cabo de Santo Agostinho, ela criticou o prefeito por “não aceitar ajuda para fazer as coisas certas e por isso ele acaba fazendo tudo errado”.
Chamando para si a responsabilidade de ter trabalhado muito para eleger Keko do Armazém, o vereador Irmão Flávio (PL) também disse que não consegue ser ouvido pelo prefeito. “Por uma gestão que ajudei a construir, por uma gestão que paguei um preço muito caro para existir, eu muitas vezes não tenho acesso. É preciso que a gestão acorde e passe a governar para o povo”.
No exercício do mandato como suplente de Bruno Villar, licenciado para assumir a Secretaria Executiva da Saúde, o vereador Gessé Valério (PSB) defendeu o diálogo da Câmara Municipal com a Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho para encontrar uma solução para o problema da Saúde. Após lembrar que foi com diálogo que outros problemas foram resolvidos, ele lembrou que a crise não está só no Mendes Sampaio, mas atinge igualmente hospitais de outros municípios e do estado.
Mas foi o vereador Naelson Valério (PSC) quem colocou o dedo na ferida. “Não se dirige um carro se não tem combustível, assim como não se administra uma saúde se não tem orçamento para trabalhar nela”, disse o vereador para isentar de responsabilidade pelo caos da Saúde do Cabo de Santo Agostinho tanto dos médicos, pessoal de enfermagem e até mesmo o secretário-executivo de Saúde, Bruno Villar.
O orçamento para a Saúde que está sendo executado pela Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho neste exercício de 2023 é da ordem de R$ 205,9 milhões, ou pouco mais de quatro vezes o orçamento da Câmara Municipal, de R$ 47,4 milhões. Mas os gastos da Prefeitura ainda são maiores na Educação, de 341,8 milhões e com a folha de pagamento dos funcionários, onde são gastos R$ 533,089 milhões, ou duas vezes e meia o total do orçamento reservado para as despesas com a Saúde da população.
Por: Geraldo Seabra