A gestão de uma cidade violenta requer estratégias inovadoras e colaborativas que vão além das abordagens tradicionais de segurança, já comprovadamente ineficazes. O Cabo de Santo Agostinho, a quarta cidade mais violenta do Brasil, onde eu e toda minha família fomos vitimas, (vide matéria veiculada no NE TV da Rede Globo: G1 – Moradores de bairro no Cabo, PE, cobram melhorias na segurança – notícias em Pernambuco) sinto a urgência de medidas que não apenas coíbam a violência, mas transformem as estruturas sociais que sustentam esse cenário devastador para nossa juventude.
O Cabo de Santo Agostinho, localizado na Região Metropolitana do Recife, possui uma rica história e um potencial econômico e turístico considerável. Com aproximadamente 210 mil habitantes, a cidade é um polo industrial, sede de indústrias importantes e detém áreas portuárias de Porto de Suape que alavancam a economia local. Suas praias, como Gaibu e Calhetas, são pontos turísticos famosos, atraindo visitantes, com belezas naturais que contrastam com os cenários urbanos.
No entanto, essa prosperidade não impede os problemas sociais. Violência, desigualdade e falta de oportunidades marcam a realidade de bairros como Charneca, Bela Vista, Pontezinha… Para enfrentar isso, é necessário seguir exemplos de sucesso, como o de Medellín, na Colômbia. Outrora conhecida como uma das cidades mais violentas do mundo, Medellín transformou sua imagem mediante um conjunto de ações integradas: programas sociais, melhorias na infraestrutura urbana, inclusão cultural, arte e educação. Essas iniciativas não apenas reduziram os índices de violência, mas reconstituíram o tecido social da cidade, oferecendo alternativas e esperança à população.
No Cabo de Santo Agostinho, iniciativas como as do diácono Joabson Silva servem para talvez não ter que ir muito longe Um talentoso artista plástico que ministra cursos de pintura nos bairros de Pirapama e Charneca, mostra o caminho. Crianças e jovens têm a oportunidade de entrar em contato com a arte, descobrindo talentos e desenvolvendo habilidades que antes estavam adormecidas. Joabson, por sua vez, é fruto de um projeto liderado pelo pintor João Brito no passado, o que exemplifica a arte como resgatadora e formadora de cidadãos com novas perspectivas.
A arte precisa ir além do mero ornamento de paredes frias e palácios fictícios. Arte não é enfiar o dedo no fiofó do outro, isso é psicopatia e pornografia. A arte verdadeira ensina e transforma, a arte também peca se ela não consegue ultrapassar as fronteiras do seu próprio ambiente criador. Ela não combina com bolhas sociais, tampouco com expressões que afastem ou dividam os cidadãos e unam apenas guetos. Ela deve ter um propósito social, ser uma ferramenta de inclusão e de transformação; caso contrário, perde completamente o seu sentido. Cada pincelada em uma oficina de artes plásticas carrega o potencial de afastar um jovem da marginalidade e levá-lo ao encontro de uma nova identidade, de novos sonhos. Projetos assim deveriam ser ampliados e incentivados pelos gestores e pela sociedade civil.
Além disso, programas esportivos, cursos de capacitação e um forte investimento em cultura e educação são cruciais. É preciso criar um ambiente onde as crianças e os jovens se sintam parte da cidade, onde vejam oportunidades de crescer e prosperar sem ter que recorrer a caminhos perigosos. É assim que uma cidade pode começar a mudar a narrativa da violência para a da esperança e da inclusão.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em Gestão Pública