
Vivemos uma época em que o virtual parece sobrepor-se ao real. O simples ato de sorrir, de sentar-se à mesa para uma refeição, de registrar uma viagem ou de viver uma experiência de lazer passou a ser, muitas vezes, direcionado para a tela de um celular. As pessoas não apenas vivem o momento: elas o editam, retocam e publicam, buscando a aprovação alheia e o aplauso instantâneo que as redes sociais oferecem. O que era espontâneo tornou-se performance, e o que deveria ser vivência íntima transformou-se em exposição calculada.
Um jantar em família já não é apenas um encontro para partilha e diálogo, mas uma oportunidade de postar a foto do prato. A viagem já não é contemplação do novo, mas um roteiro de imagens programadas. Até mesmo o sorriso, expressão genuína da alma, passa pelo filtro digital para se tornar mais “aceitável”. Esse mundo editado cria a ilusão de perfeição, mas deixa um rastro de frustração, pois a vida real, com suas imperfeições, não se encaixa no cenário cuidadosamente fabricado.
As consequências desse fenômeno são visíveis. No íntimo, muitos se sentem insuficientes, comparando-se a padrões irreais e desenvolvendo sentimentos de ansiedade, baixa autoestima e solidão. No convívio social, cresce a superficialidade dos relacionamentos, onde se valoriza mais a aparência do que a essência, mais a imagem que se projeta do que a verdade que se vive. O diálogo profundo e a convivência sincera cedem espaço a curtidas e comentários rápidos, que pouco alimentam a alma.
Esse vazio existencial nasce da busca externa por reconhecimento, quando, na verdade, a verdadeira plenitude só pode ser encontrada no interior de cada ser. É preciso resgatar o valor da vida simples e autêntica: viver o momento presente sem a necessidade de provar nada a ninguém, cultivar relações verdadeiras, dedicar tempo à escuta, à presença e ao cuidado. Pequenas atitudes como estar de corpo e alma em uma conversa, apreciar uma refeição em silêncio, ou caminhar em meio à natureza sem pressa já são caminhos que devolvem ao ser humano a profundidade que ele perdeu no mundo editado.
Ao optar pela realidade, a pessoa descobre benefícios inestimáveis. O coração se torna mais leve, a mente encontra repouso e os vínculos humanos ganham em sinceridade e profundidade. A vida deixa de ser um palco de exibição e se torna novamente aquilo que sempre deveria ser: um espaço de crescimento, de afeto e de experiências verdadeiras. Afinal, viver de forma autêntica é a única edição que não precisa de filtros, pois nasce da essência e se sustenta na verdade.
Jairo Lima é artista plástico e escritor