O texto da presidente da Associação dos Advogados Previdenciaristas de Pernambuco (AAPREV) a respeito das eleições da OAB/PE, e publicado em meios de comunicação, possui muitas camadas – e gera perplexidade em todas elas. É que apesar de serem comuns as manifestações desonestas em período eleitoral, poucas conseguem ser ao mesmo tempo, tão arrogantes, autoritárias e oportunistas. Muito talento para o erro é necessário para escrever uma opinião tão infeliz.
Sua Excelência faz ataques pessoais ao candidato de oposição, sem, contudo, comprovar uma linha do que alega. Sai vomitando supostos acontecimentos de forma aleatória e superficial, em um emaranhado de versões carentes de sentido e lógica.
Por exemplo, o artigo diz que durante a realização de um certo curso na área previdenciária o candidato foi contra a concessão de descontos pela OAB/PE aos associados da AAPREV. Supondo que fosse verdade, em que isso seria exatamente errado? Se o curso fosse de baixa qualidade, ou se os descontos estivessem sendo pleiteados apenas para um segmento específico, ou se a intenção fosse apenas panfletária etc., parece que o imperativo categórico nessas hipóteses seria se colocar contra esses descontos. São vários se’s justamente porque não fica claro o que de fato aconteceu, a publicação trouxe várias ilações sem o menor comprometimento com a inteligência do leitor, violando os preceitos básicos de honestidade intelectual em qualquer texto minimamente respeitável.
Ainda nesse particular, seria importante que a autora esclarecesse como construiu o raciocínio peculiar de que ser contra descontos em um curso específico significaria priorizar interesses próprios. Qual é a relação exatamente?
Demais disso, há uma menção a suposta violação ao dever de prestação de contas em assembleia, no âmbito da associação previdenciária. Aqui é preciso lembrar, embora devesse ser desnecessário, que a articulista foi eleita presidente da AAPREV com o apoio de Almir Reis – nome que ela parece ter esquecido enquanto escrevia -, de quem foi aliada. Pela proximidade, teria obrigação de ver quaisquer erros. Logo, se não viu, foi incompetente; se viu e não se insurgiu a tempo e modo, foi conivente. Mas a hipótese provável é que todo esse discurso travestido de conselho desinteressado aos advogados não passe de oportunismo.
Soa até engraçado que a colega tenha a capacidade de tentar transferir a Almir Reis a responsabilidade pela morosidade de uma vara federal, isentando completamente os seus amigos da gestão atual da OAB, candidatos à reeleição com o constrangedor slogan “renovação experiente”, os quais tinham o dever de ofício de agir numa situação como essa – como também teriam de agir contra os grandes escritórios que precarizam a advocacia com jornadas e salários aviltantes, mas por algum mistério inconfessável não agem.
Por fim, existe ali uma provinciana arrogância quando se diz que os apoiadores da oposição se dividem entre os que buscam interesses pessoais e aqueles que acreditam numa imagem forjada no marketing. A autora, desconsiderando os números do pleito anterior, no qual expressiva parcela da advocacia pernambucana votou em Almir Reis, em outras palavras diz que esses eleitores ou são interesseiros, ou desinteligentes, incapazes de formar um juízo consciente e ao final decidir que a melhor opção não é o lado dos seus amigos.
No dia 18 de novembro, que cada advogado e advogada use a sua esperteza para dar o seu voto de forma independente, livre de cabrestos e do autoritarismo classista. A advocacia pernambucana, sempre combativa, é plenamente capaz de decidir o que é melhor para si. Ela saberá dar um voto no futuro contra a arrogância dos que vivem no passado.
Por Matheus Júlio Lyra Rêgo, advogado OAB/PE49.670