
A escola, há muito tempo, concentra seus esforços quase que exclusivamente no desempenho acadêmico dos estudantes. Notas, provas, boletins e rankings se tornaram o foco principal das instituições de ensino, numa corrida constante por resultados e metas. No entanto, esse modelo engessa a compreensão de quem realmente são os jovens que ali estão: indivíduos em processo de construção, repletos de emoções, medos, expectativas e histórias únicas que influenciam diretamente sua capacidade de aprender.
Ignorar essa complexidade humana compromete o propósito da educação. Não se trata de transformar professores em pais ou psicólogos, mas de reconhecê-los como figuras essenciais na mediação entre o conhecimento e os sentimentos dos alunos. Um jovem que enfrenta ansiedade, insegurança ou conflitos internos não consegue absorver conteúdos da mesma forma que alguém emocionalmente estável. A cognição não é uma ilha; ela é atravessada pelo emocional.
Estudos da Organização Mundial da Saúde mostram que 1 em cada 7 adolescentes no mundo enfrenta algum transtorno mental, como ansiedade ou depressão, afetando diretamente seu rendimento escolar (OMS, 2021). Outro levantamento, do Instituto Ayrton Senna (2022), revela que alunos com níveis elevados de competências socioemocionais, como autocontrole e empatia, têm desempenho até 30% superior em matemática e leitura.
Quando a escola ignora essa dimensão, ela fecha os olhos para o que realmente move (ou paralisa) a aprendizagem. Cada aluno carrega um universo dentro de si – valores, traumas, sonhos, referências diferentes – e tratá-los como peças iguais de uma engrenagem educativa é cruel e ineficaz. A padronização do ensino desconsidera as subjetividades, tornando o ambiente escolar muitas vezes um palco de frustração, exclusão e sofrimento silencioso.
É urgente que os educadores sejam capacitados não só para ensinar conteúdos, mas para enxergar pessoas. Isso não significa romantizar a função do professor, mas fortalecer sua formação para que ele saiba lidar com seres humanos complexos, inacabados, em constante transformação. Uma pesquisa da Fundação Lemann (2023) indica que 74% dos professores se sentem despreparados para lidar com questões emocionais dos alunos, o que só reforça a necessidade de uma abordagem mais humana e integrada. Uma escola que reconhece o emocional como parte do processo de aprendizagem não está sendo “boazinha” – está sendo inteligente. Porque aprender exige presença, e ninguém consegue estar verdadeiramente presente onde não se sente compreendido.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em gestão pública