
A chamada CPI das Bets, instaurada no Senado para investigar a atuação das casas de apostas esportivas no Brasil, virou palco de um espetáculo político-midiático que mais entretém do que esclarece. O que deveria ser uma apuração séria sobre lavagem de dinheiro, vício em jogos e possíveis conexões com o crime organizado, transformou-se numa verdadeira “fábrica de likes” recheada de selfies, influenciadores e cortinas de fumaça que apenas desviam o olhar da sociedade sobre os problemas que realmente importam.
A comissão, que começou com promessas de moralizar o mercado de apostas online, um setor que movimenta bilhões sem regulação clara, tem dado mais destaque à presença de personalidades da internet do que aos mecanismos ilegais por trás dessas plataformas. Nomes como Virgínia Fonseca, Jojo Todynho, Rico Melquíades e Felipe Prior foram chamados para depor, numa tentativa de criar comoção pública e atrair manchetes, mesmo sem qualquer indício de crime cometido por eles. Em vez de respostas, o que se viu foram depoimentos esvaziados e momentos dignos de um reality show.
A própria postura dos parlamentares contribui para o espetáculo. A relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS) insiste na prorrogação da CPI por mais 130 dias, mas o baixo quórum nas sessões e o notório desinteresse de alguns colegas expõem o jogo político por trás da comissão. Quando há holofotes, como nas audiências com influenciadores, os assentos se preenchem. Quando o tema é técnico, jurídico ou fiscal, o vazio toma conta do plenário.
E enquanto a CPI das Bets ocupa espaço na mídia com depoimentos de celebridades, outros escândalos gravíssimos passam praticamente despercebidos. Um exemplo é a recente revelação de fraudes no INSS, que envolvem descontos indevidos em benefícios previdenciários e podem ter lesado milhões de aposentados e pensionistas. Uma denúncia com impacto direto na vida de pessoas vulneráveis, mas que não rende o mesmo buzz nas redes sociais.
Há, ainda, o risco real de que essa CPI sirva como instrumento de censura velada, tentando criminalizar a publicidade digital e minar a credibilidade de influenciadores que atuam de forma legal. A crítica justa deve ser feita às plataformas que operam à margem da lei, ao lobby que impede a regulação do setor, e ao próprio Estado, que permitiu o crescimento desordenado de um mercado bilionário sem proteção ao consumidor.
O Brasil tem urgências muito maiores. Saúde, educação, segurança pública e combate à fome são prioridades que não podem ser ofuscadas por uma CPI que se comporta como uma novela mal escrita. A CPI das Bets, do jeito que está, parece mais interessada em lacrar do que em legislar. Que não sejamos apenas plateia desse teatro. Que cobremos dos nossos representantes a seriedade que o momento exige.
Por: Uanderson Melo, jornalista, radialista e teólogo