
Na gestão pública, decisões acertadas podem salvar vidas, preservar direitos e assegurar a continuidade de políticas essenciais à população. No entanto, diante de crises — sejam elas sanitárias, climáticas, financeiras, de segurança ou reputacionais — a tomada de decisão se torna ainda mais desafiadora. Nesse contexto, o gabinete de crise surge como um recurso estratégico fundamental, embora, infelizmente, subutilizado por alguns gestores públicos.
Um gabinete de crise é um pequeno grupo técnico-estratégico, composto por cerca de 10 a 12 integrantes com cargos de liderança e relevância dentro da organização. Seu papel é planejar, coordenar e executar ações de enfrentamento a situações críticas, assegurando uma resposta articulada, célere e eficaz. Esse grupo atua tanto na gestão quanto na comunicação da crise, o que significa que não apenas define medidas operacionais, mas também cuida da forma como essas decisões serão comunicadas à sociedade, à imprensa e aos demais entes institucionais. Em momentos críticos, uma informação mal conduzida pode intensificar ainda mais o problema.
Apesar da importância do gabinete de crise, é comum observar gestores que, em vez de acionar esse dispositivo coletivo, optam por conduzir a situação sozinhos, baseando-se em decisões unilaterais e muitas vezes improvisadas. Tal prática, por mais bem intencionada que seja, fragiliza a legitimidade das ações, reduz a capacidade de análise do problema e amplia os riscos de erros estratégicos. A centralização excessiva, sobretudo em momentos de tensão e pressão, pode resultar em ações descoordenadas, desencontro de informações, sobrecarga de determinadas equipes e, em última instância, no agravamento da crise. A ausência de uma visão multidisciplinar também impede a análise de riscos sob diferentes perspectivas — jurídica, operacional, institucional e comunicacional.
A atuação de um gabinete de crise permite a tomada de decisões mais seguras, baseadas em diferentes áreas do conhecimento e da gestão; agilidade e articulação nas respostas, evitando retrabalho e falhas operacionais; unificação do discurso institucional, gerando confiança e transparência junto à sociedade; análise contínua do cenário, com identificação de riscos secundários e projeções de curto, médio e longo prazos; e divisão clara de responsabilidades, evitando sobrecarga e fortalecendo o senso de corresponsabilidade. Além disso, o gabinete de crise permite que a administração pública mantenha resiliência institucional, ou seja, a capacidade de continuar funcionando mesmo sob forte estresse ou adversidade.
É importante destacar que o gabinete de crise não deve ser acionado apenas quando o problema já se instalou. Sua real potência está na antecipação de riscos, por meio de análises de cenário e construção de planos de contingência. Essa proatividade reduz impactos e fortalece a governabilidade, mesmo diante de eventos inesperados.
O gabinete de crise é um recurso indispensável na boa governança pública. Ignorar sua importância é expor a administração — e, sobretudo, a população — a decisões improvisadas, mal comunicadas e, muitas vezes, ineficazes. Em tempos de crise, liderança não se traduz por isolamento decisório, mas pela capacidade de construir soluções coletivas, técnicas e bem articuladas. Afinal, crise bem gerida é também uma oportunidade de fortalecer instituições, políticas públicas e a confiança da sociedade no poder público.
Jairo Lima é membro da Academia Cabense de Letras, artista plástico e pós-graduado em Gestão Pública