A meteórica ascensão de Javier Milei, deputado, roqueiro e economista libertário de 52 anos, recentemente eleito presidente da Argentina com a maior votação da sua história, pode ser atribuída na maioria ao apoio fervoroso do eleitorado jovem. Seus milhões de seguidores nas redes sociais, a afinidade com a cultura pop e a postura atrevida para defender suas ideias o conectaram a uma multidão insatisfeita com as antigas práticas políticas, cada vez mais associadas à esquerda. Ao animar a juventude carente de esperança em meio à larga pobreza e à crise econômica, Milei conseguiu demolir velhos padrões e começa a inspirar movimentos além-fronteiras.
No Brasil, o rejuvenescimento da direita ancorado nas mídias digitais tem evoluído desde as grandes manifestações populares de 2013, ganhando ainda mais impulso nos últimos anos, após a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de jovens parlamentares conservadores, como Marcel van Hattem (Novo-RS) e, mais recentemente, Nikolas Ferreira (PL-MG). Esses líderes inspiram novas gerações a se envolverem ativamente no debate público, levantando sem qualquer embaraço bandeiras como liberdade econômica e instituição familiar, sem perder o entusiasmo e a irreverência que caracterizam a juventude.
A figura impetuosa de cabelos desgrenhados e jaqueta de couro de Milei, cantando rock para simpatizantes e chamando rivais de “ladrões”, empolga a juventude direitista brasileira. “A Argentina está mostrando ao mundo que o liberalismo pode ser pop. Além de contrariar o establishment e grande parte da mídia, Milei superou estereótipos criados pela esquerda contra quem defende a liberdade individual e a limitação do Estado a funções básicas”, disse Marcel van Hattem, 38 anos. Ele está segundo mandato de deputado, tendo iniciado a carreira política aos 18, como vereador em Dois Irmãos (RS), seguindo depois para o Legislativo estadual (2015) e o Congresso (2018).
Nikolas Ferreira, 27 anos, deputado mais votado em 2022, com quase 1,5 milhão de votos, destaca-se também como um dos políticos mais influentes nas redes sociais, usando com facilidade ferramentas e linguagens próprias dos usuários mais moços. Constantemente aclamado nos corredores do Congresso e nas cidades do país por onde transita, sobretudo por jovens adultos e adolescentes, ele é visto por analistas como o rosto mais destacado dessa ascensão da direita jovem.
No primeiro ano de Brasília, suas iniciativas e discursos despertaram polêmicas, apontando erros e contradições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e abordando sem inibição temas como a liberação do aborto e das drogas, implantação de banheiros unissex e prisões políticas.
Nikolas Ferreira chama Lula de ladrão em discurso na ONU
No último dia 17, Ferreira, que é formado em direito e nasceu em uma favela de Belo Horizonte, participou em Nova York, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), da Cúpula Transatlântica, na condição de liderança jovem. No evento que marcou o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o deputado discursou em inglês contra as leis abortistas e a favor de princípios morais ameaçados por políticas públicas. Essa fala foi mais uma das muitas suas a viralizar nas redes.
“A esquerda usa a distorção da realidade, a relativização e a destruição da identidade para cooptar e manipular, sobretudo os jovens. Defendi na ONU a vida desde a concepção, abordei a doutrinação ideológica e a guerra cultural e ainda expus a hipocrisia dos ativistas ambientais, tão atuantes nos últimos quatro anos e agora desaparecidos enquanto o fogo consome a Amazônia e o Pantanal. Não deixei também de reforçar que Lula é ladrão e o seu lugar é na cadeia”, comentou o deputado.
“Cristão, conservador e defensor da família, Nikolas é uma referência da direita brasileira, principalmente para os jovens. Como deputado federal, ele tem atuado na defesa da democracia, da juventude e dos princípios da direita”, comentou o deputado estadual Lucas Polese (PL-ES), 27 anos, o mais jovem da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Presidente do Instituto Liberal do Espírito Santo (Iles), ele é um dos políticos que tem no deputado mineiro um modelo a ser seguido.
Nova geração de deputados fez barulho na CPMI do 8 de janeiro
Essa face irreverente e engajada da direita jovem brasileira ficou explícita durante as sessões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, encerrada em outubro com o controle da maioria governista sobre o seu desfecho. A ampla e permanente exposição nas redes sociais dos deputados da minoria, sua atuação como time e sua audácia para explicitar omissões do governo federal nos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes animaram a oposição e irritaram o governo.
Chamados pejorativamente de “quinta série” pelos parlamentares da base governista, os jovens membros de direita na CPMI chamaram a atenção do vice-presidente do colegiado, o experiente senador Magno Malta (PL-ES). Ele vê no grupo sucessores de outros militantes conservadores e o prenúncio de novo tempo da República.
Os espirituosos André Fernandes (PL-CE), 25 anos e autor do pedido da CPMI; Nikolas Ferreira, 27; Filipe Barros (PL-PR), 32; Maurício Marcon (Podemos-RS), 36; e Abílio Brunini (PL-MT), 39, foram batizados por Malta de “A Geração Gideão”. A referência vem do personagem bíblico que, apesar da pouca idade, liderou um vitorioso exército de apenas 300 soldados. “Vocês vêm com toda força e são o exemplo de como aprender a confiar em Deus, mesmo quando tudo parece impossível”, disse.
Embora tenha os mesmos 27 anos de Nikolas Ferreira e ser também ardoroso defensor do liberalismo e do combate às agendas da esquerda, o ativista, youtuber e deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) segue trilha paralela na direita jovem, em razão dos embates entre o Movimento Brasil Livre (MBL), do qual é fundador, e os aliados do ex-presidente Bolsonaro.
Kataguiri é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. No seu grupo está o vereador de São Paulo, Fernando Holiday (União Brasil), que é contra cotas raciais e tem se destacado pelo enfrentamento aos políticos de esquerda.
Esquerda perde ar de novidade e torna-se carrancuda e moralista
Até mesmo intelectuais de orientação esquerdista têm observado uma dinâmica peculiar, caracterizada por aparente inversão nos papéis históricos tradicionalmente atribuídos à esquerda e à direita. Anteriormente associada a uma postura séria e mal-humorada, a direita contemporânea emerge como a defensora maior da liberdade de expressão, apresentando propostas que desafiam o status quo de maneiras “transgressoras”.
Por outro lado, a esquerda assume agora papel de censor, com agendas identitárias que, em muitos casos, escapam à compreensão da maioria da população. Este cenário propicia uma abertura para críticas espirituosas por parte da direita. A esquerda, ao adotar postura politicamente correta, perdeu aura de novidade e, ao persistir em modelos econômicos falidos, vê-se sujeita a questionamentos.
Segundo Juan Carlos, diretor-geral do Ranking dos Políticos, o cenário nacional mostra nitidamente um rejuvenescimento da direita, embora ainda seja empiricamente difícil de comprovar. “As redes sociais foram um fator essencial nesse processo cultural, no qual a direita mostra uma verve de mais humor e contestação, enquanto a esquerda aparenta estar mais carrancuda e moralista com seu olhar politicamente correto”, disse.
Jovem política se orienta por valores conservadores e cristãos
Pré-candidata pelo PL a vereadora de Cabo de Santo Agostinho (PE), Emília Soares, disse ter entrado na política movida pelo desejo de fazer o bem para as pessoas e de defender princípios que acredita serem fundamentais. Ela encontra inspiração “na coragem e determinação” de figuras como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), a influenciadora Bárbara Destefani, criadora do canal Te Atualizei, e Nikolas Ferreira. “O deputado é um jovem que luta diariamente pelo que defendemos. Ele me inspira todos os dias e me dá muita força para continuar”, disse a jovem à Gazeta do Povo.
Identificando-se como líder de direita, a adolescente pleiteia ser a mais jovem representante na câmara municipal da sua cidade, apresentando agenda voltada à valorização da liberdade individual, da responsabilidade pessoal, dos valores cristãos e de políticas de livre mercado. Para ela, uma sociedade baseada em princípios conservadores e éticos é “o caminho para construir um futuro sólido”.
Contrária à política de cotas, à defesa do aborto e à chamada ideologia de gênero, Emília acredita na renovação política pela direita, pois a esquerda “teve tempo suficiente para mostrar suas abordagens”. Ela entende que os jovens não estão mais sendo mais predominantemente moldados por entidades estudantis vinculadas a partidos de esquerda, como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a União Nacional dos Estudantes (Une), e buscam cada vez mais por um caminho conservador, alinhado com o lema “Deus, Pátria e Família”.
Emília realiza projetos sociais e se mostra empolgada com o impacto positivo que a política pode ter nas vidas de pessoas, famílias e comunidades. Recentemente, ela foi selecionada entre 20 mil inscritos para integrar a turma de lideranças da escola de formação política Renova BR.
“Temos de nos juntar aos que querem colocar o país de volta aos trilhos da paz, do desenvolvimento e da justiça com J maiúsculo”, finalizou.
Da redação do Radar Metropolitano com informações da Gazeta do Povo