
O Brasil vive uma profunda crise de representação política. E isso, infelizmente, não se resume apenas aos grandes escândalos nacionais ou ao Congresso. Nos municípios, especialmente em Pernambuco, a atuação de muitos vereadores tem mostrado o quanto parte da classe política ainda não entendeu seu verdadeiro papel.
Vereador não é assistente social, tampouco justiceiro de bairro. Não é policial de folga, nem digital influencer que vive de “trend” no TikTok. Vereador é agente político, eleito para legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Sua missão é propor, debater e aprovar leis que melhorem a vida da população e garantir que o prefeito e seus secretários estejam, de fato, trabalhando dentro da legalidade e em favor do povo.
Infelizmente, em várias cidades da Região Metropolitana do Recife, vemos ex-policiais que, ao serem eleitos, simplesmente não conseguem ou não querem “tirar a farda”. Continuam fazendo blitz nas redes sociais, perseguições teatrais a pequenos infratores, como se ainda estivessem nas ruas em missões ostensivas. O problema é que o cenário mudou: agora, a missão é institucional, legislativa, política. A lei é sua arma, o plenário é o campo de batalha.
Isso não significa que devam abandonar as bandeiras que os elegeram. Segurança pública é, sim, uma pauta urgente e necessária. Mas querer legislar com revólver imaginário na cintura e câmera na mão não é serviço à sociedade, é vaidade. E pior: transforma a função pública em espetáculo.
Diferente disso, temos bons exemplos de figuras que vieram da área militar e entenderam bem a transição. O coronel Meira, no Congresso Nacional, e o deputado estadual Alberto Feitosa, em Pernambuco, são exemplos de como é possível defender os interesses da segurança pública com seriedade, equilíbrio e, sobretudo, consciência institucional. Eles entenderam que a tribuna é diferente da viatura. Que agora é tempo de construir políticas, não de agir na base da emoção ou da fúria.
E por falar em fúria, a política pernambucana foi recentemente surpreendida por um caso lamentável em Garanhuns, no Agreste Meridional. O prefeito Sivaldo Albino (PSB), aliado do prefeito do Recife, João Campos, teria agredido o vereador Ruber Neto (PSD), que é ligado politicamente à governadora Raquel Lyra. O episódio virou caso de polícia e expôs o pior da política local: a briga de bastidores que deixa a população completamente de lado.
Enquanto isso, os problemas da cidade continuam. O povo segue sem respostas para questões básicas como mobilidade, saúde e educação. A briga política se transforma em guerra de egos e o Parlamento municipal vira palco de agressões físicas e morais. É o tipo de exemplo que ninguém quer seguir.
Outro ponto que merece atenção é a eleição de influenciadores digitais que, após eleitos, mostram o despreparo para o exercício do cargo. As redes sociais, que poderiam ser ferramentas de prestação de contas e incentivo à participação popular, viram vitrines de futilidade, piadas e promessas vazias. Muitos não conseguem sequer explicar um projeto de lei ou mostrar onde e como fiscalizam o Executivo. Ao invés disso, vendem uma imagem de “popstar legislativo” que pode até render curtidas, mas não entrega resultado algum para o povo.
A política precisa ser resgatada da superficialidade e do improviso. O vereador, o deputado, o prefeito, todos eles foram escolhidos para representar o povo. Isso exige preparo, responsabilidade, ética e compromisso com a coletividade. A função pública não é hobby, nem palco para revanches pessoais. É dever. E quem não está preparado para isso, deveria ao menos ter a dignidade de reconhecer que não é o lugar certo.
Enquanto o vereador continuar confundindo o mandato com nostalgia de profissão passada ou obsessão por curtidas, quem perde é o cidadão. E Pernambuco, com tantos desafios em cada cidade, não pode mais se dar a esse luxo.